Cidadania Obscena - Jornal Fato
Colunistas

Cidadania Obscena


Na vida é sempre preciso dar nome aos bois, se o objetivo é ser direto e apontar o problema sem meias palavras, com coragem e ousadia, mesmo que o preço a ser pago seja sempre alto.

 

A comunicação precisa ser clara e simples, que os tempos são de contatos imediatos. Esse é o melhor percurso para alcançar bons resultados e trilhar o caminho da ética e cidadania plena.

 

Penso nisso quando lembro de entrevista do apresentador e jornalista Marcelo Tass, que reclama da "sociedade que parece não querer encarar o lado obsceno da cidadania, ao não apontar os autores".

 

Ele, juntamente com o Filósofo e Professor Mário Sérgio Cortella, tratam do tema no livro Basta de Cidadania Obscena, lançado esse ano. Os autores abordam o avesso da cidadania, que despreza a ética, e avaliam o que cada um de nós faz na recusa ao obsceno.

 

Então, em tempos de comunicação digital, de velocidade promovida pelas redes sociais, discutem o politicamente correto e incorreto, avaliando que a comunicação deve ser usada para a boa cidadania.

 

Então nós, que somos teoricamente formadores de opinião, de que forma podemos ter uma participação mais ativa, efetiva e produtiva no mundo virtual? É preciso refletir para responder a essas e outros questionamentos dos autores.

 

Gosto de Cortella e sempre acho interessantes os seus questionamentos. Mais que instigantes, atualíssimos num país em que todo o destino do povo brasileiro está entregue a uma minoria que ocupa os poderes constituídos para se proteger, num jogo de compadrio que compromete o futuro dos mais pobres, a maioria da nação brasileira, jogada no limbo.

 

Os autores, ao longo do livro, chegam a questionar a existência da cidadania e abordam a influência de cada um de nós na recusa ao obsceno. O que é obsceno para um pode não ser para outro, e é aí que mora o perigo.

 

Cortella afirma que a cidadania é obscena às vezes porque vitimiza as pessoas. E que a percepção daqueles que são vitimados no cotidiano por uma organização social, pelo modo como estruturamos a convivência, pelos nossos valores pressupõe autoria. "Isto é, se há vítima, há réu".

 

Ao invés de reú, diria algozes, que são todos aqueles que, podendo atuar em benefício da maioria, fazem uso de ética e moralidade seletivos para se protegerem, num jogo nada republicano de interesses escusos, que beneficiam sempre os mesmos grupos, desde o descobrimento do Brasil.

 

E finaliza: "A ética ficou um pouco mais elástica, em vez de ficar mais flexível. Ela é mais relativista, ou seja, vale tudo. O mundo digital nos trouxe coisas magníficas, mas trouxe ainda a possibilidade de um idiota arrumar um banquinho para ser ouvido".

 

De minha parte, ainda me surpreendo com imbecis nas redes sociais, que se revestem de uma autoridade e conhecimento que não possuem, para serem preconceituosos e homofóbicos, aéticos e sem valores como se fossem referência. São os idiotas no banquinho virtual. Mais uma vez, Mário Sérgio Cortella lacrou.


Comentários