?Casa-lar? - Jornal Fato
Colunistas

?Casa-lar?


A casa não é um aglomerado de paredes, mas um sentimento que nos ocorre, é o reflexo da nossa alma. Demorei muito entender isso e, por vezes, ainda me esqueço. Todavia, tenho buscado mudança no modo de enxergar o que está por trás das paredes de um de lar.

 

Em meio às contrações trazidas por esse processo de mudança do olhar, tenho repensado algumas atitudes carregadas de tensão e de estresse. Isso acarreta o reexame de alguns sentimentos cujos resultados me têm revelado o quanto perdemos tempo preocupados com a organização da casa; com as paredes que precisam ser pintadas; com os móveis que necessitam ser comprados; com os materiais que certamente o tempo irá devastar.

 

Essas fugacidades, não raro, nos cegam para o que realmente importa, para o que verdadeiramente nos faz felizes. Assim, com os olhos vendados, por vezes, chego a casa e, ao invés de olhar e acariciar meus filhos, meus amados, reclamo pelas roupas fora do lugar, pelas sujeiras espalhadas ao chão. A frieza do olhar, voltado às coisas de menor importância, tem revelado menos encanto dos filhos quando chego do trabalho.

 

Contudo, nunca é tarde para retirar as vendas dos olhos. Nos últimos dias fui levada a entender que, mais que as paredes e os materiais que compõem uma residência, o que importa são os sentimentos que do local se exala. São as emoções que nesse espaço são vividas.

 

Mais que a organização ou a bagunça existente dentro de um lar, o que de fato dá prazer são os abraços e os sorrisos daqueles que lá dentro se encontram. O resto: a sujeira, a desordem, o que precisa ser reformado, no fim das contas, é o que menos importa e é o que, aos poucos, com diálogo, se ajusta.

 

Afinal, de que vale um castelo gelado, sem amor, sem afinidades, sem brinquedo jogado pelo chão, sem sorrisos e sem a alegria de estar junto...

 

De que valem palácios cheios de formalidades que ofuscam as vidas, eventualmente, lá dentro existentes. Nenhum encanto há em paredes que não têm histórias de amor para narrar; que não escutam os sorrisos das crianças que, sentindo-se amadas, maculam os sofás com seus pulos; sujam as paredes com suas mãos e mancham os pisos com seus pés cheios de vida e de sentimento de pertencimento ao lugar.

 

Tampouco são belas as paredes que não ouvem os cantos desafinados daqueles que transbordam alegria por ter uma família que, em meio aos desafios e problemas da vida, sabe demonstrar e experimentar o valor que há no amor e no perdão.


Comentários