Carlinhos e Bê - Jornal Fato
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Carlinhos e Bê


Ao me deparar com a tela em branco do computador lembro dos fatos recentes que marcaram a vida de pessoas das quais tenho apreço, mesmo sem o convívio próximo. Nesta semana recebemos as tristes notícias das mortes de duas pessoas queridas, Regina Garschagen e Jonas Caldara. Ah a morte! Recordo do meu pai, Zé Carlos ou Carlinhos, como era conhecido que teve a vida interrompida jovem, vítima de um infarto fulminante no feriado de 15 de novembro de 2008.

 

Uma morte embora prematura anunciada pelo estilo de vida adotado pela companhia do álcool e do fumo. Uma pena!  Querido, era conhecido nos bares e botecos aos quais freqüentava o mais recente era o do "Careca", no Mercado Municipal. Papai era acolhido pela simplicidade no falar e no trajar e tinha um jeito muito particular de viver.  Só se submeteu ao uso de calça comprida no dia dos casamentos das filhas. Bermuda, camisa e sandálias pareciam lhe dar a liberdade que sempre buscou.  Cuidar da saúde, mesmo que fosse uma consulta médica de rotina, nem pensar. Jamais!  Tinha repugnância.

 

Certo dia, envolvido em um acidente na Avenida de Ouro, foi levado ao Pronto Socorro da Santa Casa. Com um corte profundo em uma das orelhas, fugiu da unidade antes mesmo de ser atendido. Meu bondoso marido Celso o atendeu em casa. Somente minutos antes morrer, surpreendentemente, pediu à Bê, minha mãe, que o levasse ao hospital. Mas foi em vão. Já estava partindo!

 

Outras peripécias de Zé Carlos poderiam ser narradas aqui. Foram tantas! Lanterneiro caprichoso, com o quarto ano primário, tinha 11 irmãos, ele também se destacava pelo bom humor e generosidade. Tinha o que costumamos chamar de sensibilidade aguçada. No dia da sua morte, pediu que o levasse à casa da mãe dele, a adorável vovó Maria, pois queria se despedir dela. " Mãe vim pedir a sua benção porque vou morrer hoje". Imagino o coração de uma mãe numa situação desta!

 

Mas o que me faz lembrar com enorme carinho de papai foi o amor que ele teve pela minha mãe, algo que jamais vi outro igual. E creio que a recíproca foi absolutamente verdadeira. Mamãe teve a dignidade, de uma mulher que se casou com apenas 15 anos, de sustentar o casamento ao longo de décadas pelos princípios que a constituem uma pessoa invejável sobre todos os aspectos humanos. Suportou tantas e tantas dificuldades, firme como uma rocha, poucas vezes a vi chorar. E nem quero me lembrar!

 

Ele também tinha uma paixão imensurável pelas filhas e não cansava de repetir, às vezes, exageradamente: Tenho três filhas: Denise, Danielle e Karla. Sua breve vida se resumia em manifestar sóbrio ou não esta paixão. Orgulho que com certeza nos fez crescer confiantes, pois posso dizer sem sombra de dúvidas que somos mulheres determinadas e realizadas. Amor de pais tem esse poder de nos fortalecer e de nos fazer pessoas melhores! Acredito que esta tenha sido uma das principais missões de Zé Carlos por aqui.

 

 


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