Canção da Amizade - Jornal Fato
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Canção da Amizade


Sou das que acreditam que amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração.

 

Mas daqueles amigos verdadeiros que dizem o que você precisa, mas não gostaria de ouvir. Porque não existe nada pior do que viver cercado de pessoas que permitem que você caminhe para o abismo sem te dar um belo puxão de orelhas.

 

São amigos que põem o dedo na ferida, tiram da zona de conforto, esculhambam, mas também aconselham sem pedir licença, porque não precisam. São abraço certo e acolhedor e têm sempre palavras de afeto no momento que ninguém mais está por perto. E eles podem chegar porque nos conhecem tão bem que são capazes de ouvir e perceber o grito de socorro ainda aprisionado na garganta.

 

Enquanto escrevo, penso em amigos e amigas de todas as horas, com quem não estou regularmente, mas que já me deram muitas broncas, mas também muito carinho. Uma delas, em especial, me chamou de irresponsável. Pensa que abuso. O cúmulo do absurdo.

 

Recordo bem desse dia. Foi pouco tempo depois da cirurgia bariátrica. Numa das idas à Câmara, Célia Ferreira me perguntou se estava tudo bem e se estava fazendo tudo direitinho. Respondi que sim, mas não a convenci. Lembrei que na noite anterior, ainda na fase pastosa, tinha colocado alguma coisa ainda não liberada na boca só para sentir o gostinho. Cuspi imediatamente após saborear.

 

Então realmente a resposta não convenceria a quem me conhece bem como ela. Autoritária e brava, como se tivesse pego uma criança em plena arte, perguntou o que eu tinha feito. Mal acabara a resposta, ela foi incisiva. "Sua irresponsável. Depois acontece alguma coisa vai dizer que a cirurgia deu errado. Nunca mais repita isso". Se pretendia fazer de novo, a vontade passou naquele momento exato. Levar bronca de Célia nunca mais. Lígia deve saber do que estou falando Foi a primeira e última. Pelo menos espero.

 

Aí vou enumerando outros amigos que já me deram bronca, sem anestesia: Rosângela Venturi, Almir Forte, Paulinha Garruth, VergíniaLúcia, Lígia Faria, Ângela Barbosa, Elza Helena, minhas filhas Elisa e Aline, minha irmã Adriana e outros que prefiro não citar, porque, discretos que são, não gostam que se faça exposição de suas figuras.

 

Esses podem se meter na minha vida porque não tenho dúvidas do carinho que sentem por mim. Com eles aprendi na prática o que é amor recíproco e verdadeiro.( Ah uns amigos desses substituindo os puxa-sacos que assessoram os políticos hein? As excelênciascertamente errariam muito menos. Mas deixemos os políticos de lado e voltemos à amizade).

 

Acho bom lembrar disso em tempos de tantos relacionamento virtuais, fugazes, fúteis e voláteis. Daqueles que não se sustentam. São baseados em interesses não republicanos. Ser chamada de irresponsável seria motivo de rompimento eterno e muita postagem desaforada nas redes sociais.

 

Graças a Deus que tenho esses amigos que podem tudo, até me chamar de irresponsável. São realmente amigos para se guardar do lado esquerdo do peito. O que importa é ouvir a voz do coração, como diria o grande Milton Nascimento, em sua linda Canção da América.

 

A gente sempre vai se encontrar. Vai estar juntos nos momentos alegres e tristes, sem pedir permissão. Vai chegar porque ali é o lugar onde os verdadeiros amigos devem estar. Grudadinhos, sorrindo ou chorando, mas pertinho da alma e do coração. 


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