Brisa e Saudade - Jornal Fato
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Brisa e Saudade


O ar fresco no rosto acalma o meu coração. Levantar cedo para a caminhada é um desafio quase intransponível, mas os encontros matinais com outros caminhantes renova as energias.

 

Interessante observar a cordialidade dos que passam e fazem questão de desejar um bom dia. Talvez porque o único peso que carreguem naquele momento seja o do próprio corpo. Os outros ficam em suspenso por pelo menos uma hora.

 

Ao caminhar à noite percebo expressões mais tensas. Todo o peso do mundo parece interferir em posturas e passos. A indiferença reina.

 

No trajeto matinal, ninguém chama tanto a atenção quanto um senhor franzino, aparentemente trabalhador rural, que com seus passos miúdos e rápidos impressiona. Mas ele resolve diminuir o ritmo.

 

Puxa conversa e diz que é muito bom caminhar e relembra a esposa falecida há seis meses, adepta da atividade física. A partir daí percebo quanta saudade sente da mulher com quem foi casado por 38 anos. Uma vida de cumplicidade revelada em poucas palavras. "Minha filha, a saudade dói. Quando a gente ama, dói muito".

 

Chegamos ao ponto em que ele seguiu por outro caminho. Prossigo em passos lentos, a mente voltada para o senhorzinho ágil, que me parece firme como a rocha, apesar da saudade dolorida.

 

A cidade vai acordando aos poucos. Volto para casa, coloco meu fardo nas costas e me preparo para mais (ou seria menos?) um dia. Esperando a madrugada seguinte, para receber o ar fresco que acalma o meu coração.

 

Anete de Oliveira Lacerda da Silva

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