Breus - Jornal Fato
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Breus


Forças se entrelaçam na noite solitária

e serena, devolvendo aos caos o excesso de humanidade.

 

À luz, romances tediosos e promíscuos são reinaugurados,

descrentes de caminhos

e ausentes de perplexidades.

 

A obscuridade ronda os seres aclamados

e vazios, sedentos de perspectivas e vinho suave.

 

O orvalho encharca pedaços e objetos,

e a mundividência e a introspecção

mantêm as lacunas e beiradas depositadas.

 

No breu dos espaços,

a  identidade torna-se frágil e imponderável,

disposta à solidificação e aos processos

de recriação do intangível e real.

 

Minha Parte

Não inventei palavras de amor,

Não denunciei saudades,

embora gritasse baixinho em mim.

Não trouxe recados de loucuras e

não ousei chorar...

O mundo está sempre anunciando sentenças

e preparando momentos surpresas.

Nunca procurei sossego, no caos sempre me crio.

Faço embrulhos e enfeites e me dou de presentes.

Já guardei bastantes deles no porão.

Lá, ainda reluto em morar,

Em alinhavar roupas que um dia

Couberam em mim.

Mudei... um corpo um pouco maior, às vezes menor...

Meu corpo denuncia o que caminha

aqui dentro.

Não quero deixar coisas no porão.

Também não desejo vender minha casa.

Quero um cantinho pra chorar e gargalhar em paz.

Sinto falta de gente... de pessoas que já me habitaram.

O amor não é leite quente... que esquenta as noites frias.

Amor é gosto, é prazer, é nascer, é morrer.

Vim pra isso. Gosto do amor.

Adoro quando chega sem campainha ou endereço marcado.

Adoro quando repousa, de mansinho, e me acaricia.

É isso que reivindico... uma parte da vida.

Não precisa ser grande, mas um bom pedaço.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nossos corpos

Serenamente, vagueio por regiões sombrias e sinto o azul se desmanchar por entre lençóis impalpáveis. Vejo o retrato apagado e a música sondar meu espírito. Tiro os anéis, faço as unhas e acaricio o meu corpo. Desnudo o espaço descampado e realmente voo... o longo voo das criaturas abomináveis e amenas. Sensações se aproximam. E o pedido de perdão,

de anseio

de infinitude

distancia-se dos objetos marcados e novamente o azul pintou o cenário bronzeado.

Pousei sobre o tempo e desequilibrei as três partes do corpo.

 

Simone Lacerda é professora.

cheirosensaiosepoesia.blogspot.com.br


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