Ausência de antes - Jornal Fato
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Ausência de antes


Enchi a casa de poesia,

aterrei cenários e confrontos,

veiculei mensagens de paz

e anunciei alegria ensolarada.

Nada de guardar versos para mais tarde.

Nem jurar as mais preciosas inverdades.

Dormi o sono dos injustiçados

E daqueles que se anunciam aos goles.

Acrescentei o fermento da receita de bolo

e quis guardar a palavra em plano secreto.

Invoquei o amor mais sincero

E o amor que me negasse a morte

(talvez seja minha maior canalhice).

Refutei os discursos mais óbvios

ditos em covardia.

Quis a coberta esticada na cama

e as louças organizadas por tamanho

e importância.

Desejei a emoção do outro

como o texto que gostei do poeta da revista.

Não quis as memórias de corrente e

que me aproximam do porão, do caos que ainda teimo dizer.

Senti náuseas ao adentrar lembranças e

adivinhei o que não quis pensar.

Olhei o cheiro das flores deixadas no primeiro poema e

o odor das palavras que escorregaram e

se fizeram repousar.

Sacralizei o improvável e profanei minhas ilusões.

Agora, não abortarei o mundo que insisto.

 

Simone Lacerda é professora.

cheirosensaiosepoesia.blogspot.com.br


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