Atenas capixaba? - Jornal Fato
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Atenas capixaba?


Existem situações que não consigo compreender e nem aceitar, como a que passo a narrar.  Chamou-me a atenção um cidadão, sentado no meio- fio, vendendo papa e pamonha. Ele me sorriu amarelo, com uma expressão resignada e me informou - olha eu aqui, vendendo pamonha. Fiquei chocada, pois trata-se de um dos melhores músicos de nossa cidade - Renê do Cavaquinho. Não sei muita coisa de sua vida, só sei que já me ofereceu colchões, que tem família para sustentar, e ficou subentendido para mim, que só a música não mantém a sua subsistência. Renê, um admirável cavaquista do Grupo Pó de Mico - composto por excelentes músicos, ter que vender pamonhas para se manter, não é um absurdo? Vender pamonhas não é nenhuma vergonha, é um trabalho digno como outro qualquer. Vergonha é um músico excepcional ter que vendê-las para sobreviver. Vergonha não para ele, vergonha para todos nós.

 

Entendo que para um músico, que não possui horários regulares, é difícil manter uma rotina de trabalho, o que é exigido nas empresas.  Artistas como Renê, que não vem de família abastada, que deve ter lutado com dificuldade por toda vida, poderia ser patrocinado por instituições ou pelo poder público, para poder sobreviver através do sua arte. A Lei Rubem Braga dá incentivo a cultura, inclusive o grupo Pó de Mico é apoiado para se apresentar uma vez por mês em local público - Praça Jerônimo Monteiro ou Mercado Municipal. Mas é muito pouco, músicos não deveriam estar vendendo pamonhas e sim, tocando chorinho e outros ritmos mais, para alegrar a nossa vida. Nos países europeus os encontramos nas praças, nos metrôs, nos espaços turísticos, enfim em vários      locais das cidades. Chego a imagina-los na Casa dos Braga, na de Roberto Carlos, e nas praças - música para nos alegrar a alma e suavizar as agruras da vida. Cachoeiro poderia então retomar a posse do título de que tanto se orgulhou: A Atenas capixaba. Sonhar é possível.  

 


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