As nuances da madrugada - Jornal Fato
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As nuances da madrugada


Passavam das duas da manhã quando, entre uma madorna e outra, sinto os murmúrios da noite e seus indecifráveis ruídos. No silêncio, qualquer pequeno barulho torna-se gigante.  Nessa madrugada, com Celso em viagem, esperava um contato da Maria Augusta para buscá-la numa social, o que na nossa época era chamada festinha. Torcendo para que ela me sinalizasse para ir, me antecipei e passei uma mensagem: estou indo te pegar agora. Claro, que em meio segundo, veio a reposta pedindo para ficar mais um pouco, mas disse não.  E fui. Me benzi, rogando a Deus que nos conduzisse em segurança.

 

Antes mesmo de sair de casa, continuava sentindo os silêncios da noite. Um dos vizinhos chega à casa do trabalho. Pensei como deve ser retornar do trabalho no meio da madrugada. Cada um com a sua cruz. Mais adiante, observo vigias solitários em algumas ruas, perambulando como fiéis escudeiros dos seus protegidos. Passo por um hospital, onde me deparo com uma ambulância de resgate, trazendo sabe-se lá quantas vítimas. Peço a Deus, piedade daquelas vidas. Sigo pedindo a Ele ainda mais proteção.

 

Penso na minha família e lembro, com nostalgia, o período em que todo pai ou mãe tem a necessidade de passar de quarto em quarto, numa espécie de ronda noturna verificando se está tudo bem. Tempo em que os filhos estão inteiramente sob os nossos cuidados. Bons tempos! Que dia a minha sogra, Dona Maria, mãe de seis filhos.

 

Adiante no meu trajeto, vejo outras situações que prefiro nem relatar. Sigo em frente.  Passo por um pequeno trecho escuro e chego ao local onde Guta estava. Ela entra no carro, dando meu primeiro suspiro de alívio, retornando à nossa casa. 

 

Já se passaram quinze minutos da minha saída quando entramos na garagem. Imediatamente  ligamos o sistema de alarme. Em silêncio, agradeço a Deus por ter nos guiado e por ter podido vivenciar algumas das infinitas nuances da madrugada. Dou meu segundo suspiro de alívio e acalento, por hora, o meu coração de mãe quando Guta deita ao meu lado, me beija e diz: Boa noite, mãe! Que assim seja!


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