Apaguem as fogueiras - Jornal Fato
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Apaguem as fogueiras


É repetitivo, mas vale lembrar. A violência contra a mulher está mais forte do que nunca. É histórica e acontece nos barracos e nas mansões, todos os dias. E surge onde menos se espera, entre os evangélicos, inclusive pastores, por exemplo.

 

É o que prova pesquisa de Valéria Vilhena, Teóloga e Mestre em Ciências da Religião, Doutora no Programa Educação, História da Cultura e Artes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ela fez estudo qualitativo na Casa Sofia, espaço para vítimas de violência em São Paulo que comprovou: 40% das mulheres que sofrem violência doméstica são evangélicas. Mas ela acredita que esse número sejam maior, se observados outros espaços de atendimento.

 

O dado está em seu livro "Uma Igreja sem voz: análise de gênero da violência doméstica entre mulheres evangélicas". Ela diz que "quando a bancada evangélica sai pregando nos púlpitos que está lá para representar a vontade de Deus ou para proteger o único modelo de família, está pautando, na realidade, homofobia, racismo, sexismo". E a teóloga é incisiva: " Se há um tratamento diferente para meninos e meninas, há violências. E diz também que pautar políticas públicas baseadas na minha fé dentro de um Estado laico é um grande retrocesso". Corajosa essa Valéria Vilhena, que nasceu em berço evangélico pentencostal. 

 

Então o que vemos, muitos séculos depois, é a caça às bruxas e os Tribunais da Inquisão, repetindo práticas da Idade Média. Se naquele tempo já se fazia uma campanha ostensiva de cunho político, religioso e social contra mulheres, especialmente da população rural, hoje a violência ainda marca forte presença e não escolhe idade, credo e condição social.

 

Na Idade Média as mulheres exerciam a medicina e algumas atreviam-se a discutir também Política e Religião . Quanta ousadia, quando apenas aos homens era reservado esse papel. Mulheres à frente do seu tempo. Vanguarda que uma 'boa' campanha promovida pelo poder político e eclesiástico resolveu exterminar.

 

Se algumas faziam bruxaria, a maioria apenas medicava seus "pacientes". Outras simplesmente frequentavam lugares considerados masculinos e discutiam temas reservados aos homens. Mas a histeria levou a população a sair na caça às bruxas, que teriam pacto com o demônio. Conta a história que a campanha foi tão agressiva que mais de nove milhões de pessoas foram assassinadas, incluindo crianças e moças que "herdaram esse mal".

 

Infelizmente em pleno Século XXI a caça às bruxas continua, travestida de  discursos hipócritas em defesa da família. Nos moldes do manda quem pode (o homem), obedece quem tem juízo(a mulher, claro). O que foge desse padrão patriarcal está sujeito a todo tipo de exposição e crítica, além de ameças e pancadaria. As vias de fato são uma dura realidade.

 

Segundo o Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres, o Espírito Santo é o estado com o maior número de feminício de mulheres negras. No país 50,3% das mortes violentas de mulheres são cometidas por familiares. Desse total, 33,2% são parceiros ou ex-parceiros. Basta ler os jornais ou assistir aos noticiários. Acontece toda semana.

 

Lamentavelmente sexismo e racismo caminham de mãos dadas. É tempo de educar os homens para respeitarem as mulheres. As bruxas modernas ainda escrevem suas histórias.Apaguem as fogueiras e abram alas para essas mulheres corajosas que vão continuar mostrando seu valor.

 


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