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Centenas de supremacistas brancos carregando tochas, fazendo saudações nazistas e gritando palavras de protestos contra judeus, negros, imigrantes e homossexuais encheram os noticiários da semana passada. Nos Estados Unidos, o uso de símbolos do nazismo, o discurso de ódio e a existência de grupos de perfil neonazista são práticas legais, amparadas no direito à livre expressão. Mas, afinal, por que ser quem você é, professar ou não uma religião ou ter nascido negro ou amarelo incomoda tanta gente? Legalizado ou não, a verdade é que vivemos em um mundo intolerante.

 

No Brasil, jovens negros de baixa escolaridade são as principais vítimas de morte violenta. A cada 100 pessoas assassinadas, 71 são negras. Aqui, bem debaixo do nosso nariz, os negros são mortos como se vivêssemos em situação declarada de guerra racial. E não é só isso. A violência contra gays é alarmante. A cada 28 horas, um é exterminado.

 

Vivemos dias difíceis, onde o desejo por uma ilha deserta é cada vez mais latente e onde o abraço de acolhimento é cada vez mais raro. Já não há mais face para oferecer. Somos chicoteados dia e noite no corpo inteiro.

 

Infelizmente, para falar de sectarismo, nem precisamos ir para além de nossa aldeia. Basta uma notícia para que todos virem juízes. É obrigado e urgente que se escolha um lado, que se rotule quem tem ideias diferentes, e que seja massacrado quem não pensa da mesma forma. Ai de quem não torce para o meu time, de quem não reza para o meu deus, de quem tem uma condição sexual diversa da minha. Morte para quem não votou em quem eu queria, fogueira para quem não segue a moda que eu dito, guilhotina para quem cometeu um erro.

 

Não importa o meio, há sempre uma forma de exercer a intransigência. Para quem tem o poder, vale a caneta. Para quem tem voz, vale o microfone. Para quem tem rede social, vale o teclado. E vale a arma, o dedo apontado, o veículo desgovernado. E valem mentiras disfarçadas de verdades. E vale tudo por egos cada vez mais inflados e almas cada vez mais condenadas ao inferno, e eu falo desse inferno de aqui. De agora.

 

São tempos tão complicados que uma flor que nasce no asfalto emociona e gestos de carinho espantam. Achamos logo que o afago é o assédio mascarado.

 

Se você ainda não desistiu, ame logo. Ame agora. Amanhã pode não haver mais chance.

 

 


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