Ai, que preguiça! - Jornal Fato
Colunistas

Ai, que preguiça!


Tenho preguiça de gente chata. Tenho preguiça de gente que não tolera a escolha do outro, acreditando que sua verdade absoluta reina em todos os hemisférios. Sinto-me obrigada a nem discutir em muitos casos, pois sua opinião reside acima dos bem e mal e nada, acreditem, irá mudar isso. Deixo essas pessoas deslizarem sozinha, cavarem o próprio abismo.

 

Preguiça nem sempre é ruim, implicando falta de ação. Ela é responsável pela evolução na Terra. Graças a não querer ter trabalho, o homem cedeu à invenção. Se o homem, por exemplo, não tivesse preguiça de andar, não teria inventado o carro e avião. Menos esforço garante menos riscos e temos mais tempo para fazer outras coisas ou não fazer nada.

 

Há os que pregam que o ócio criativo é indispensável para que o sujeito produza melhor. Um tempo dedicado a si mesmo para que se dedique àquilo que não conseguimos fazer pela eterna falta de tempo. Temos que dar conta demais e em tão pouco tempo, fazendo nosso trabalho, muitas vezes, no automático, sem qualquer prazer e alegria. É preciso ter uma preguiça com objetivo.

 

A preguiça nos permite o pensamento aberto, o mergulho na imensidão dos nossos pensamentos, o não querer fazer por obrigação. Ficar pelas margens e pelos centros sem embate obrigatório, sem delimitar o único caminho, a única certeza ou verdade.

 

Vivo com preguiça deste mundo, tão habitado por gente covarde e doente. É um mundo que não tem se revisado e permitido que as pessoas sejam mais humanas. São disputas maléficas e "idiotas" para saber quem pode mais, quem tem mais, quem sabe mais, quem tem a melhor corrente ideológica e política, quem é mais bonito, quem produz mais. Ixi! Isso já me deu preguiça, já cansou meus neurônios e minha pequena, mas cultivada, paciência.

 

Estou enfadada de sujeitos que se acovardam, que dão crédito a sentimentos ruins e mesquinhos. Tanto cansaço! Desta forma, a preguiça se converte em um bem necessário e eficiente. A preguiça evita o ódio e o desassossego, evita o rancor e a construção da mágoa. Sem desgastes, por favor.

 

A felicidade, há quem diga, é o resultado da preguiça de ser infeliz. É mais prático sorrir, desapegar, considerar, abraçar e amar. Ser triste dar trabalho demais, pois somos obrigados a lutar contra a tristeza. Melhor, nesta ótica, ser feliz. Melhor não resistir a tanta coisa boa que a vida presenteia.

 

cheirosensaiosepoesia.blogspot.com.br

 


Comentários