A tristeza nossa de cada dia - Jornal Fato
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A tristeza nossa de cada dia


Recebi uma mensagem recentemente que me sugeria acolher bem a tristeza, porque ela sempre traz uma mensagem importante para a alma.

 

O texto alertava sobre o que precisa ser deixado pelo caminho para que novas portas se abram. E o conselho, que a princípio me pareceu fora de propósito, foi logo assimilado quando me lembrei de um versículo bíblico que repito com frequência, principalmente em dias muito difíceis: "em tudo dai graças".

 

Quem se propõe a dar graças em todas as circunstâncias pode, sim, receber bem a tristeza, conforme aconselha o texto, que fala de desapego, para que haja renovo. Sugere não conter lágrimas e a investigar a origem da tristeza, para descobrir o que ela que nos dizer.

 

"Pare, respire, investigue. Sem interromper o pranto, aja na direção dos desejos da alma". Recomendava ainda que não nos contrariássemos tanto, para que nossa alma não sentisse saudades de si mesma.

 

A mensagem provocou algumas reflexões importantes, que já se tornaram um exercício há algum tempo. Realmente é preciso vivenciar a tristeza, para que saiamos fortalecidos dela. 

 

É necessário escolher onde, e acima de tudo, com quem queremos estar. E nos permitir, sim, ficar a sós sempre que isto nos for importante. Porque a sensação de ser ilha de tristeza em meio à felicidade intensa do mundo, principalmente aquela exposta nas redes sociais, pode nos mostrar quem realmente somos.

 

Bendito libre arbítrio, que nos permite exposição ou recolhimento, com escolhas acertadas ou equivocadas, que trazem, em ambos os casos, consequências que precisarão ser administradas.

 

E se a tristeza tem provocado muitas tragédias, que façamos o exercício de percebê-la em nós e nos outros, antes que se torne irreversível ou que provoque estragos irreparáveis. A mensagem me lembrou que não podemos permitir que momentos difíceis embacem o nosso olhar sobre a realidade.

 

Sobre quem está ao nosso lado, com sofrimento tamanho que não consegue mais se mover sozinho. Então, que haja generosidade para que ninguém se torne invisível para nós. Que não escolhamos adubar a nossa própria tristeza e egoísmo. Mas que olhemos as pessoas nos olhos, com empatia e respeito.

 

Talvez a partir daí deixemos de ser uma "geração rivotril". Aquela que vegeta e se esforça para fazer o que a sociedade espera. Mesmo que para isso haja aniquilamento e seja necessário abandonar sonhos e sacrificar os desejos da alma e do coração.

 

"Que não nos tornemos uma geração de mortos-vivos, sofridos e sem rumo, que finge ser feliz". Eu digo mais. Que não criemos fakes de nós mesmos, ao ponto de não nos reconhecermos e sabermos quem somos de verdade.

 

Que os recados da alma sejam recebidos e assimilados, para que não andemos perdidos, em círculos, fazendo as mesmas coisas, mas esperando resultados diferentes. Há algum tempo aprendi, com lágrimas, dor e sofrimento intenso, que é preciso encarar a vida de frente, mesmo que em alguns rounds tenhamos sido nocauteados por ela.

 

São as escolhas que fazemos. Algumas urgentes. Outras planejadas. Cada uma, a seu tempo, necessária e inadiável. Que haja coragem para abandonar caminhos aparentemente seguros em busca do novo, do recomeço, de novas emoções. Que a tristeza, que encontra terreno fértil e mil motivos para se instalar nos dias atuais, não nos paralise, ao contrário, nos impulsione.

 

A vida pode ser breve. Mas que seja intensamente vivida. Afinal de contas, todos nós merecemos ser escandalosamente felizes, apesar dos dias tenebrosos que se anunciam. 


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