A praça é vermelha - Jornal Fato
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A praça é vermelha


 

Muito criança, pelas mãos do meu pai, fui envolvida nas conspirações e nas aspirações da Praça Vermelha. Antes da festa acontecer oficialmente nas comemorações de São Pedro, já havia festa por ali. Uma festa de ideias e ideais de uma gente que nunca desanimava. Essa mesma gente que continua não desanimando apesar de todos os pesares que essa gente aguentou. A luta pela verdade, pelo outro e pelo mundo de igualdades não é fácil, mas na praça não há espaço para o cansaço. Ele acaba no abraço forte do companheiro e no brinde da cerveja gelada. Em nenhum outro lugar do universo somos nós, buscadores do bem, tão irmãos quanto aqui. Nem em Moscou a Praça Vermelha é tão vermelha e nem os sonhos tão concretos e imortais.

 

Penso sempre na Praça Vermelha com emoção, com uma lágrima ou outra que não consigo conter e também com um certo sorriso. Sentimentos que se misturam e se confundem na sensação de pertencimento que ouso ter com esse lugar. Um pouco pela saudade que sinto de como era, do CDM, da sorveteria, dos bancos de pedra, do cinema e, acima de tudo, das pessoas que, fisicamente, não estão mais por ali. Saudade do sorriso do meu pai iluminando a festa, da fala sempre entusiasmada do professor Jurinha, da presença discreta de Estelemar e, mais recente, do amigo Roney Moraes, que amava tanto quanto eu o que realmente move a comemoração: a força de fazer com que as tradições, os objetivos e a beleza da praça não se percam no tempo e no espaço e de tantos outros. Mas um pouco também pela alegria de assistir, de muito perto, misturada com pessoas de valores tão nobres, o que é o melhor e mais lindo ritual de confraternizar uma luta que é de todos, por todos e para todos.

 

As mãos que mantém a festa não são muitas, mas são fortes. O vermelho que nos une e que faz com que hoje, mais uma vez, estejamos aqui, nunca desbotou ou perdeu o brilho. Porque não é o vermelho de sangue derramado em guerra, deslealdade ou desavença, mas o vermelho da paixão pela justiça, pela harmonia e pela paz.

 

Uma praça nunca é só uma praça. Ela guarda histórias, amores, brigas, revoluções, golpes, vidas e mortes. Ainda mais se a praça tem uma ponte, e essa ponte é de ferro. Ainda mais se a praça tem segredos que ficarão ali para sempre. Ainda mais se a praça tem feitos que pretenderam transformar o mundo em um lugar melhor. Ainda mais se a praça tem cor. Ainda mais se essa cor é vermelha.

 


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