A ocasião revela o ladrão - Jornal Fato
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A ocasião revela o ladrão


Faço um balanço de tudo o que tem acontecido nestes dias aterradores, e vou enumerando fatos e situações que não condizem com o comportamento humano.  A clausula que proíbe uma classe de participar de greves é clara e inviolável. Qualquer meio que for utilizado para corromper o que foi anteriormente acatado, através de juramento à corporação, é inaceitável, ainda mais colocando as esposas na linha de frente, numa tentativa de burlar normas pré-estabelecidas, permitindo que contra elas a população se revoltasse e as tornassem motivo de chacotas e piadas.

 

A segunda questão que se apresenta é o entendimento de que, se decido me incorporar a uma organização, nela sou inserido com bônus e ônus. Não sou contra se lutar por direitos, mas dentro dos parâmetros que se permita chegar a um acordo legal. Diante da situação em que se encontra o país, ter um emprego e receber o pagamento em dia pode-se considerar um privilégio, ainda mais que se tinha conhecimento, por antecipação, qual o valor do salário. E se não satisfeito, existe sempre a possibilidade de se procurar outro emprego, ou sugerir um trabalho para a esposa, objetivando ajudar no orçamento doméstico. Se o Governador não é dado ao diálogo, podia-se insistir e criar um movimento que o afetasse diretamente, e que não prejudicasse toda a população. Imagino o desgaste que seria, para seu prestígio, todas essas mulheres batendo panelas na porta do palácio, dias e dias, até que fossem ouvidas. Poderiam forçar a um entendimento sem criar a antipatia da população. Toda classe policial saiu desgastada e desprestigiada após os acontecimentos e suas consequências -  mortes; prejuízos; desespero; pânico; grandes eventos suspensos; escolas, comércio, bancos fechados; economia paralisada; piadas e acintes por toda internet; população prisioneira dentro de suas casas; revolta generalizada e nosso Estado achincalhado na imprensa nacional e até internacional.

 

A chegada do exército e acordos sendo costurados nos trás tranquilidade, contudo o que não havia assistido, nunca anteriormente, nos meus muitos anos de vida, deixarão marcas que jamais se apagarão da memória, minha e coletiva, sendo que a marca indelével que ficou foi a insanidade do povo depredando e se apossando dos bens alheios, como se tratasse de um ato normal. Que tristeza assistir a voracidade com que saqueavam e roubavam, além de irem destruindo tudo. Voltei ao tempo em que, na Prefeitura, organizávamos mesas de alimentos para comemorações, e as pessoas, ao invés de se servirem, iam recolhendo a comida nas bolsas em cenas deprimentes. E como nos entristecia constatar que não era a miséria que os levava a tais atos, e sim a certeza de que a lei de Gérson é a norma de conduta - tenho que levar vantagem em tudo, as consequências que se danem. Triste constatar também que a ocasião revela o ladrão, e a que ponto o cidadão, enquanto massa humana, consegue ser desumano.  

 

 


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