A (não) medida do amor - Jornal Fato
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A (não) medida do amor


O amor requer de nós a mais legítima das coragens. Não é definição de dicionário, ao contrário, foge a tal, não é afeto instituído em sermões e poemas, não se comove à expressão ou a dizeres apenas, não é regra. Amar é ato de bravura e a emancipação do maior de todos os afetos. Ele não é cura ou ordem da vida, é entrega, dor, desamparo e conforto.

 

Sim, ele é ambíguo. Alimenta-se dos esbarros, dos olhares que não fogem de si mesmo, das vontades de estar com o outro, embora haja controvérsias ou impossibilidades. Nada de amenidades, pois não é esse seu desejo. É pele, é alma, é coração, são todos eles em diferentes medidas e em nenhum tamanho. É do amor que desconstruímos e nos atrevemos, sem ele há falência e a covardia mais tola.

 

Não sejamos submissos ao medo ou ao abandono. Caso o leitor queira um nobre conselho ou um desses avisos desavisados: ame com todas as indecisões e receios, mesmo que não haja nenhuma chance racional, ame com toda sorte ou ausência, mas não negue a si o sentimento mais avassalador e terno, não permita que se esvaia sem viver tão perfeito e angustiante sentimento, a mais legítima das emoções.

 

Não deixemos de anunciar a mais exata (in) verdade, a perplexidade de toda uma existência, a mais prazerosa das experiências. A poesia que nos sobressalta e nos arranca do senso comum, da vida amornada, da superficialidade dos dias, das margens alienantes.

 

A quem não ama, entrego-lhe o pior dos castigos: a infelicidade consumada, o barulho ensurdecedor dos mais intensos silêncios, a falta que lhe rói os ossos e suas carnes já desgastadas pelas náuseas de um dia comum, uma vida nivelada, sem sombras e sobressaltos. A vida que se atrasa.

 

Então, sejamos uma ebulição em vida. Entreguemos corpo e alma àquele que nos fará eternamente gratos e felizes por um segundo ou todos os dias. Não calemos o amor e não emudeçamos o dizer do amor.

 

Grite, balbucie, soletre, cante ao ser amado que não há nada mais esplêndido e único que amá-lo e não burle o que tão intensamente vive dentro de você. Não fantasie discursos e os versos mais simples. Transforme em linguagem o que clama em seu universo mais interno, o que fará de você um indivíduo tão particular, com experiências que o tornará o melhor que poderá ser em todos os tempos.

 

Permita-se ser o mais inviável e o mais fundamental para o outro que, sem dúvida, será o responsável por aquelas belezas que saltam dos seus olhos e sorrisos. O amor é a ressurreição dos dias, que, cá para nós, andam em agonia.


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