A lâmpada dos sonhos - Jornal Fato
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A lâmpada dos sonhos


(homenagem àqueles que nos ensinam a ver)

 

Sempre acreditei que a educação era capaz de mudar o mundo e as pessoas. A escola era o espaço ideal para que plantássemos esperanças e flores, para que um indivíduo pudesse se perceber como um sujeito capaz de sonhar e realizar, o humano que recriasse vidas e uma nova sociedade.

 

Comecei bem jovem na educação, costurando minhas ações pedagógicas a novas concepções de mundo e de humanidade. Gostava de criar cenários por meio de leituras, produções e diálogos profundos que estabelecia com meus alunos. Para mim, o conhecer era- e é- a coisa mais linda do universo; o conhecer que soa com sentimento, com a emoção em trazer à luz o que permanece sombrio. "Todo o nosso conhecimento se inicia com sentimentos", já dizia Leonardo da Vinci, pois o homem é parte de si mesmo e do outro, dos afetos construídos.

 

Passado o tempo das expectativas não preenchidas, percebo que a educação é tão complexa quanto à própria existência, que o sujeito é singular demais e que planos traçados, constantemente, precisam mudar de rotas e ganhar outros contornos. Não que deixei de acreditar, mas me vi, muitas vezes, em uma ilha ou, ainda, em um mar bravio, tentando me salvar e nadar contra a corrente.

 

Tive sortes, decepções, embates, alegrias que, embora achasse permanentes, eram rareadas e de inconsistências, enfim, sofri dores e delícias (ainda sofro) de ser educadora, de caminhar com passos firmes com a proposta de vida de que a educação é capaz de mobilizar o homem, tirá-lo do senso comum, fazer com que pense "fora da caixa".

 

As obviedades de um mundo cada vez mais covarde, doente e bárbaro me causavam náuseas e recusas, pois um ser único, com particularidades, não pode ser vencer por um espírito de manada, de ideias lineares e de perspectivas sem densidade. É preciso afrontar neutralidades e anestesias que ignoram a beleza presente em cada indivíduo, a riqueza sombreada que precisa vir à tona.

 

Mas educar é preciso. E, anos e anos mais tarde, encontro-me nos pensamentos suscitados em conversas com amigos de profissão, em reuniões, em leituras de textos pedagógicos e opinativos sobre o fazer educativo, acerca dos ideais construídos e implodidos por anos de profissão. E o que valeu a pena? O que me fez continuar, embora tivesse tropeçado e chorado tantas vezes?

 

Em uma aula de Língua Portuguesa, ao corrigir uma tarefa, um aluno lê o que produziu na questão "...a escrita é o meio de imortalizarmos nossos pensamentos e sonhos." Neste momento, pego-me, novamente, acendendo a lâmpada dos sonhos e iluminando a escuridão que tentava se fazer aqui dentro. Vi, nesta simples tarefa, que nos mantemos vivos quando ensinamos e, mais ainda, quando aprendemos com o outro. O conhecimento nos mobiliza e retira as poeiras de nossas mesquinhez e perplexidades. Eu continuo acreditando na educação e na poesia que habita naqueles seres da minha sala de aula.

 


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