Prazo de validade - Jornal Fato
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 Prazo de validade


Leio na retrospectiva 2016 a sessão de obituário  com a lista dos personagens que faleceram. Vejo a biografia de cada um e fico estarrecida. A maioria é de pessoas com uma média de idade semelhante a minha. E excetuando o ator global, que morreu acidentalmente, todos de morte morrida  mesmo, por doenças incuráveis. E todos com condições financeiras para usufruírem dos melhores tratamentos. A expectativa de vida do brasileiro, segundo o último dado do IBGE, é de 75.5 anos.

 

E reflito, meu prazo de validade está vencendo. O que vier daqui para frente  é lucro. Durmo preocupada e acordo decidida a viver plenamente cada segundo, minuto, hora, dia , ou seja lá o que for, que me resta. Levanto com energia redobrada, caminho, vou para a academia, mergulho no mar inúmeras vezes, e curto minha família agradecendo a Deus pela vida de cada um. A comida à mesa tem um sabor especial, as mensagens dos amigos possuem muita doçura, a conversa descontraída é um alento, as tarefas do cotidiano são prazerosas. Nada seria tão intenso, se o prazo de validade não estivesse vencendo.

 

E sanguínea como sou, impossível ser feliz sem uma relação amorosa que corresponda aos anseios. Relação com o mundo que nos cerca, com a fé que sustenta, com a família que  fortalece, com os amigos que revitalizam, com a defesa dos mais fracos, com o trabalho que revigora, com os princípios que norteiam a vida, com a esperança de que dias melhores virão e com a gratidão pelos dias vividos, pela paz da consciência tranquila e a confiança que sempre haverá amor para quem nele crê  e confia.

 

E com a prescrição do prazo, tentarei ser cada dia mais emoção e menos razão, pois a primeira me permite viver  prazerosamente e a segunda, na minha idade, não possui mais tanto sentido. Se estou certa ou errada, que diferença faz? Não importa, abro os braços ao mundo e é de braços abertos que preparo minha alma para o encontro definitivo, para a acolhida numa das moradas para a qual me reserva o Pai. Na certeza de que o tempo que me foi dado, eu o vivi intensamente. Carrego poucos arrependimentos, no mais só gratidão e um amor infindo por tudo que me cerca. O tempo que me resta é uma dádiva, da qual eu pretendo usufruir em plenitude.  Marilene De Batista Depes

 


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