?Mais quero estar trabalhando, que chorando? - Jornal Fato
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?Mais quero estar trabalhando, que chorando?


As mudanças ocorridas no mercado de trabalho, além de definirem novas práticas produtivas, com impactos diretos sobre o trabalhador, também reforçam o aumento do desemprego, seja pela diminuição nos postos de trabalho, ou seja pelas dificuldades impostas pelas novas condições de empregabilidade.

 

Vale destacar que, apesar de a maior parte dos países reconhecerem o direito ao trabalho como um dos direitos fundamentais dos cidadãos, o desemprego, tem alcançado índices alarmantes. Estima-se que num grupo de cinco pessoas economicamente ativa, uma está desempregada. E se antes justificava-se a falta de emprego responsabilizando os profissionais pouco qualificados, hoje, essa máxima, não cabe mais. O "exército de reserva", muitas vezes, está municiado de bons recursos como experiência e formação acadêmica, por exemplo.

 

Não entraremos em questões teóricas que justificam a questão do desemprego como inerente ao Capitalismo, o nosso olhar está voltado ao ator principal desse cenário, que muitas vezes, não tem conseguido exercer o seu protagonismo: o trabalhador.

 

Ao pensarmos na ideologia do trabalho nos remetemos aos, não poucos, provérbios que crescemos ouvindo: "o trabalho dignifica o Homem"; "Deus ajuda a quem cedo madruga"; "o trabalho enriquece e a preguiça empobrece"; "o trabalho é o pai do êxito" e assim nos cercamos de significados que constroem e ratificam esse imaginário social. Mas e aqueles que não têm, ou não conseguem um trabalho? São indignos, preguiçosos, ou fracassados? Definitivamente, não!

 

O trabalho tem se colocado como um caminho para o reconhecimento pessoal e profissional, como uma possibilidade de acesso a bens de consumo e integração social e, entre outras coisas, como uma questão identitária. Portanto, a importância dada ao trabalho e a impossibilidade de estar atuando pode afetar diretamente a autoestima e reconhecimento social dos sujeitos.

 

Além disso, a instabilidade do mercado de trabalho produz, grosso modo, uma   inconstância emocional que emerge da falta de recursos financeiros, sociais e, principalmente, psíquicos do indivíduo para enfrentar a condição de desemprego; além valorização moral do trabalhador, que ocasiona a desvalorização de quem não se encontra nesta condição.

 

Do mesmo modo, a competitividade entre os próprios desempregados e a oferta de mão-de-obra, ainda que qualificada, atuam como um fator que favorece a precarização do trabalho, como, por exemplo, os "subempregos", os contratos que beneficiam o empregador e o trabalho informal. Afinal, há pessoas que exploram a fragilidade e a necessidade laboral dos outros, e chamam isso de "oportunidade de emprego".

 

O assunto não é simples, e não se esgota nessa reflexão. O desemprego é uma questão a ser discutida, pois, há muitos vieses que atravessam essa realidade. Mas, faz-se necessário um olhar mais diretivo para o sujeito desempregado, que muitas vezes, "mais quer estar trabalhando, que chorando."

 

Fabricia Rodrigues Amorim Aride

Psicóloga e Mestre em Psicologia, especialista em docência e gestão empresarial, docente e psicóloga clínica na Espaço Elenco


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