As enchentes causadas pelas fortes chuvas em Mimoso do Sul, no mês de março, não trouxeram apenas impactos materiais. Os danos psicológicos são sentidos pelas vítimas.
?Dentre as reações emocionais e comportamentais, posso destacar o sentimento de desamparo. A ausência de proteção ou recursos para reestruturar sua própria vida. Nesta situação, muitas vezes, é negada à essas pessoas um conceito básico: o pertencimento. Outras reações estão na própria tristeza, a angústia, a raiva, o choro, a preocupação com o futuro, a falta de apetite ou o excesso dele, e a insônia?, elenca o psicólogo e psicanalista, Wanderson Tófano.
?Também tem a possibilidade de ampliação de sintomas psicológicos de pessoas que já necessitam de um cuidado de saúde mental prévio. Não sabemos o que essas pessoas sentiram durante as enchentes e, nem mesmo, antes delas. Tudo isso são reações esperadas e temos que estar observando na prática, sobretudo, o que a psicologia pode oferecer?, finalizou.
Para atender a essa demanda de apoio psicossocial às vítimas das enchentes, o Vicariato Episcopal para Ação Social da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, através da Cáritas Diocesana, reuniu profissionais da área, como terapeutas e psicólogos, para compor uma equipe que, no próximo sábado, 25 de maio, estará voluntariamente em Mimoso do Sul, atendendo às vítimas afetadas. O projeto ?Psicólogos da Solidariedade? é coordenado por José Carlos Ferreira da Silva que, além de clérigo, é um renomado psicólogo com especialidade em neuropsicologia. José Carlos conta que diante desse cenário, o atendimento psicológico será voltado ao apoio prático.
?O principal objetivo do plantão psicológico é oferecer apoio psicológico emergencial às vítimas das enchentes, visando acolher, escutar e orientar as pessoas afetadas, promovendo o alívio do sofrimento emocional, o fortalecimento da resiliência e a facilitação do processo de adaptação e recuperação diante das perdas e traumas vivenciados.?
Em seguida, será feita uma orientação do que precisa ser oferecido de recursos para as famílias atingidas, conforme sua necessidade.
?Buscar identificar necessidades específicas e encaminhar para serviços de saúde mental e sociais apropriados, contribuindo para a reconstrução do bem-estar psicológico e social dos indivíduos e da comunidade impactada.
A psicóloga clínica Maria Mércia Pegoretti é uma das voluntárias. Com mais de 20 anos de experiência, ela conta que, em um primeiro momento, a intenção é ouvir e acolher o sofrimento das vítimas.
?As reações pós-traumáticas costumam aparecer dias ou semanas após o ocorrido, isso, porém, não é uma regra. O que faremos neste sábado é ouvir essas pessoas , conhecer suas dores, medos, descontentamentos (?) Nessas situações, algumas pessoas conseguem sozinhas se reorganizarem psicologicamente, com o passar do tempo. Há casos, porém, de pessoas já pré-dispostas à desenvolverem transtornos e que, nesta enchente, pode ter encontrado um gatilho?, explicou a especialista.
A cidade de Mimoso do Sul foi a mais atingida do estado. 18 das 20 mortes aconteceram no local, uma pessoa segue desaparecida e 3 mil estão desalojadas. Moradores e comerciantes tentam retomar as atividades e aguardam a liberação de auxílios.
Maitê perdeu tudo, tanto em casa quanto na vida profissional. A empresária conta que foi retirada de um barranco por uma corrente ao lado da mãe, filha e esposo depois das fortes chuvas atingirem a casa onde moram no município de Mimoso do Sul. Porém, a situação calamitosa não acabou ali. Quando o dia clareou, ela encontrou a farmácia dela totalmente destruída e tomada pela lama.
Em um cenário de desastre ambiental, os impactos à saúde mental são observados para além das vítimas diretas.
?Esse trabalho visa ajudar a elaborar esse luto diante dessas perdas, é uma situação bastante traumática, o evento acometeu uma cidade inteira, sem distinção de classe social. As pessoas perderam o básico necessário para a vida (casa, roupas, alimentos). Atingiu a integridade física e emocional, houve perdas permanentes que são as recordações de fotografias, objetos de família, de bens materiais, muitas pessoas perderam inclusive a fonte de renda que é o trabalho?, explica a psicóloga e psicanalista, Luilma Pinto, que também se voluntariou para atuar no atendimento das vítimas.
?O trabalho do psicólogo que será desenvolvido é acolher essa demanda de forma singular, porquê ao mesmo tempo que pessoas perderam absolutamente tudo, ficaram à mercê de abrigos e doações, sem recurso nenhum, se depararam frente a um real da vida, da morte, do desamparo, da angústia e do nada. Precisamos desenvolver um trabalho de resiliência, de que há possibilidade de reconstrução, levar esperança de que é possível superar, uma perspectiva de ressignificar esse momento tão doloroso.?
Serviço
Psicólogos da Solidariedade
Dia: 25 maio (sábado)
Hora: 09h00 às 15h00
Local: Igreja Matriz de Mimoso do Sul