Sonhos heroicos

Zeca Pagodinho é um dos meu heróis

15/06/2023 15:17
Sonhos heroicos /Foto: Buda Mendes/Getty Images

Além de Aldir Blanc, tenho mais alguns heróis. Ah, eu tenho. Um deles, por exemplo, usa terno. Mas não é quem cê tá pensando, não. Morô? Ele ? só dou uma dica ? trabalha tanto na esquerda, como na direita. O outro é Zeca Pagodinho, que, nos anos 80, se parecia com meu primo Elias (sobrinho do meu avô Dezinho), que morava no Jacarezinho, lá no Rio.

Falando nisso, tive ontem um sonho mais esquisito que fatia de pizza em prato de comida japonesa. Se liga. Estávamos eu e o Kleber do Posto, num papo nada a ver, em alguma casa antiga dali de Marapé (acho que a da falecida Dona Arminda, perto da igreja matriz de Santo Antônio). De repente, ?batidas na porta da frente?...

? É o tempo?

? Não, Bezerra. Sou eu, Zeca. Abre aí.

? Tá.

Pagodinho entra, me olha de cima a baixo, com cara de moleque desejoso por doce em dia de Cosme e Damião, e me dá o susto:

? Ô, Felipe, troca um cheque de 50 merréis pra mim?

Como ninguém me conta que, dependendo do episódio, até mesmo os heróis precisam pedir socorro? Caraca.

 

****

 

Outro herói que me apareceu em sonho, madrugada dessas, foi João Nogueira (que a malandragem o tenha em boa esquina!), com quem eu bebia cachaça e gargalhava bastante, embora não fizesse a menor ideia do que ele ? que também se escangalhava de rir ? teria me falado de tão gozado assim.

Sei que, ao acordar, me veio a sumideira: cadê meu smartphode? Nem todos são da época em que a rapaziada mais sacana mandava, pros otários de plantão, aquela clássica de pedreiro: ô, cumpadi, tu tem celular? Relembrei este trocadalho, do nada, porque me ocorre que talvez tenha sido esta a piada de Nogueira. Danado! Ele me paga.

Quanto ao aparelho, acabei o encontrando no hiato-tempo entre o desassossego de ?ei? e o acalento de ?oi?.

 

****

 

Às vezes, dou de sonhar acordado. É. Sempre que isso me acontece (e me apetece), meto a mão no papel e me arrisco a riscar ? com pemba ? uns versos. Tava na janela do meu cazuá, fitando a escurinhança do firmamento, quando delirei a seguinte ladainha:

Iê!/ Meia-lua se escondeu (ah, meu Deus!)/ sobre as nuvens lá do céu./ Oh, debaixo do chapéu,/ o malandro, sim, sou eu./ Só depois da meia-noite,/ meia-lua, então, voltou./ Se esperto você fosse,/ estaria onde estou./ Eu não sirvo ao diabo/ e não rezo por dinheiro,/ nem jamais eu fui culpado/ por 'causá' teu pardieiro,/ camará...

 

****

 

Numa tarde pré-Bolsolíptica, confessei ao meu coração que ainda sou o mesmo menino que sonha em brincar novamente ? e para sempre, amém e saravá! ? num quintal beeeem frondoso, o qual o eu-guri (que nunca admitiu intervenções que viessem a desarborizá-lo) chama, arfando, de ?agridoce refúgio?.