Singelas manhãs

Tal passarinho deixou-me inspirado a esboçar alguns rastros daquilo que o Miguel do bar diria se tratar não de "um outro cometa", e, sim, de cosmoliteratices, criações que partiriam do mais íntimo big-bang

05/07/2024 13:54
Singelas manhãs /Foto Reprodução Web

Não foi que, numa singela manhã, um passarinho deu um rasante sobre o cabeçalho desta coluna (distraído em tolices que vêm e vão, feito aves de além-verão, pelos vãos dos dias que, aquém de ordinários, sequer cobrem os custos da impressão deste papel de trouxa metido a esperto)?

Possivelmente imbuído de misericórdia, tal passarinho deixou-me inspirado a esboçar alguns rastros daquilo que o Miguel do bar, uma simbiose de Carl Jung e Didi Mocó, diria se tratar não de ?um outro cometa?, e, sim, de cosmoliteratices, criações que partiriam do mais íntimo big-bang.

Ainda assim, ousei questionar aos céus, meio incrédulo, se mereci mesmo tamanha inspiração. Logo eu, puro pecadilho, que, quando moleque, cometia flatos blasfêmicos nas aulas de catecismo, em Marapé, e tomava Baré num mercadinho, na Cidade de Deus, sem pagar?

Não sei se o pai do nazareno-indaialense Inri Cristo e os astros me perdoaram. Tampouco se minhas ex-catequistas e o dono do estabelecimento me desculparam. Seja como for, desconfio que eles não contaram ao passarinho ? nem verde, nem verdade ? que errar é Mano Menezes.

 

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Em mais uma singela manhã, vi um rapazote cuja cabeçorra me parecia muito perto de se desvencilhar de seu corpo e, derradeiramente, alçar voo, numa referência, de gosto duvidoso, àquele episódio do vendedor de balões, roteirizado, então, por este morador do oito.

 

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A audição de ?Novo tempo? (?apesar dos castigos...?), noutra singela manhã, revelou-me um sonho de infância que nunca o acalentei: tornar-me ator de novela, tão somente para interpretar algum tipo à la Reginaldo Faria em ?Vale tudo? e, numa cena na qual eu estivesse de paletó desgrenhado, copo de uísque à mão e risinho venha-cá-meu-Pluto, ser xingado de crápula.

Mas vejam bem: não é calhorda, canalha ou cretino; é crápula. Uma palavra que, quando a pronuncio, sempre me traz à boca a mesma crocância de um wafer Mirabel. O mau-caratismo tem, também, seus deleites.

 

PARA BALTAZAR DA ROCHA

? Se uma folha não é carregada por duas formigas?

? Uma confidência não é guardada entre duas amigas.

 

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? Nossa, que abraço aquecido.

? Minha mulher  me chama de Quente Tarantino.

 

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? Todo sorridente. A conta deve estar cheia...

? ...de esperança.