FARFALHAR DE ESPERANÇA
Moça, notei que o farfalhar do teu leque se assemelha ao bater de asas das borboletas, as quais me atrevi a renomear de flores voadoras. Vou além: constatei que as tais esvoaçantes pétalas são breves alusões ? e ilusões ? ao teu leque. Desrazão esta que, quero acreditar, talvez leve a senhora a se fazer presente no meu viver, nas manhãs em que, caminhando à beira da estrada, ao me julgar sozinho, alguma flor voadora vem se insinuar para mim. Borboleta também é esperança.
FOFOCRÔNICA
O vizinho da frente liga seu veículo e, então, sai para o trabalho. O automóvel é o de sempre, e a residência, também. Quanto ao vizinho, estou em dúvida. Parece-me diferente de quando o vi (ou achei tê-lo visto) pela última vez. Singularidades ? estaturas, fisionomias, tons de pele ? que se contradizem. Será o mesmo personagem, mas, na atual temporada, interpretado por outro ator? Não importa. Fato é que o cronista, eventualmente, não passa de um fofoqueiro sofisticado.
É A MÃE!
Junto à oração mariana das seis da tarde, transmitida pela emissora sintonizada no radinho do Bar do Miguel, dois fregueses falam da vida alheia. Um deles, um boa-praça que se orgulha de ser ?caboclo do mato, bebedor de cachaça?, dana a contar estórias lá da roça, uma das quais, em especial, diz respeito(?) a um moço que teria consumado o ato com uma quase idosa e, no dia seguinte, revelado sua aventura a um amigo. A confissão atinge seu clímax:
? A fulana com quem fiquei é assim, assim e assado...
? Ih, é a minha mãe!
? Desculpa. Eu não sabia.
? Esquenta não. Ela gosta...
JORGE VERSÍCULO (1)
Devagar com o ardor, que sou santo, mas eu sarro, hein?
VAIDADE RIMA COM BONDADE?
Bondade é, a rigor, ato solidário e, por amor, ato solitário: é a semeadura na fértil mudez da terra, esta que, na lua certa, e somente na lua certa (nem antes, nem depois, por favor), enfim há de anunciar, no desabrochar de sua flor, o altruísmo pretérito e dessabido, portanto, de vaidade.
E COM VERDADE? Se você só faz o bem,
só Deus do céu tem de saber.
Não convém a mais ninguém
teu orgulhoso ?bem-fazer?.
Caridade não é vaidade,
mas virtude anonimata.
Guarde contigo esta verdade,
pois espelho, às vezes, mata.