Na dureza da brisa, na leveza da lida

A companhia dos cachorros no meu dia-a-dia

15/09/2023 08:01
Na dureza da brisa, na leveza da lida /Foto: Reprodução/Web

ACÃOPANHADO

Na figura de um cão (um dócil e doce vira-lata), a crônica parecia me pedir um biscoito, numa noite, na rodoviária de Marapé. Dei-lhe uma bolacha de Piraquê. Recusou. Mas aceitou meu afago em sua cabeça, dentro da qual talvez eu jamais venha a saber o que se passava naquele instante, agora eternizado neste rascunho de parágrafo.

 

Entretanto, caso tenha se repetido o que me ocorrera uns anos atrás, pode ser que o cachorro não estivesse sozinho. Na ocasião, outro canino me fez companhia, durante uns minutos, na Praça de Fátima, em Cachoeiro. Ofereci-lhe maizena. Desprezou. Só quis, mesmo, ficar perto de mim. Na manhã seguinte, na gira, um guia (um caboclo) veio em minha direção e falou:

 

? Eu te acompanhei, ontem. Você me viu? 

? Não. 

? Eu estava com aquele cachorrinho.

 

ESCREVER É...

Se um lindo canto, com gosto de viver, pintou bonito e ganhou o coração do bom malandro João Nogueira, eu afirmaria que, nesta manhã, um lindo escrito, com gosto de ti, rabiscou bonito dentro do meu coração. Coincidentemente, chegou ao meu e-mail um texto do escritor e jornalista Lira Neto, intitulado ?As duas missões mais importantes da vida: amar e escrever?.  

Contudo, quem nos deixou ambas as missões, segundo Neto, foi o cronista Antônio Maria, que, à sua época (em alguma esquina entre as décadas de 40 e 60), afirmou que o homem deveria escrever à máquina. Embora eu não te datilografe e, sim, te digite, o que faço, a bem ? e além ? da verdade, é te riscar com a pemba de fé que me fora entregue por um dos meus mais velhos.

 

MALANDRO É...

Meu nome é Bezerra, mas muita gente de boa-fé me chama de Bezerra da Silva, numa alusão ao malandro velho, e logo puxam ?malandro é malandro e mané é mané, pode crer que é?. Eu, que não sou bobo, logo digo que sou otário. Porque malandro mesmo é...  

Ah, antes que eu me esqueça: ontem, sonhei que eu ? de boina branca e camisa social idem, aberta até o meio do peito ? levava um esporro do João Nogueira e era zoado pelo Zeca Pagodinho, que, no entanto, havia me autorizado a cantar ?Lama nas ruas?.

 

MUDA DE ARRUDA

Semanas atrás, ganhei uma muda de arruda e, com ela, a inspiração para convertê-la num samba de terreiro (?...na batida desta palma, / adorei as Santas Almas. / Arruda há de me valer / contra todo maldizer?, dizem, à certa hora, seus versos). Ontem, eu lhe notei sem viço, ainda que verde. Percebi, então, que aquela plantinha se tratava de um espelho. Prontamente, eu lhe aguei.

 

JORGE VERSÍCULO (2)

Rezo a Ave Maria, em pensamento, à beira da estrada. No verso ?bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus?, passa por mim uma jovem negra ? e gestante: bença de preto-novo, Cristo-erê, riscada na dureza da brisa, na leveza da lida.