Elá, elá, elareô!

Antes de eu começar a escrever crônica, em maio de 2005, um de meus anseios sempre foi restabelecer atalhos textuais que abreviassem a distância entre Marapé e Rio de Janeiro

26/07/2024 09:58
Elá, elá, elareô! /Foto: Reprodução/Web

Terça-feira, 26 de julho de 2022. Pauso uma viagem (uma crônica embalada pelo ?Tic-tac do amor?) para embarcar em outra.  

?Que sua semana seja repleta de felicidade e alegria. Valeu?? A mensagem é de Buchecha, postada em suas redes sociais, acompanhada de um vídeo dentro do qual estou até agora. 

Nas imagens, registradas numa quadra qualquer da periferia carioca, nos anos noventa, a massa funkeira curte o ?Rap da União?, dele, Buchecha, e de seu eterno faixa, Claudinho.  

De incerta maneira, estou ali, no meio da rapaziada, de bermudão e boné da Nike ? comprados num camelô de Madureira, às vésperas do Natal de 1997 ?, camiseta e tênis da Pixação, pochete da Cyclone e cordão de miçangas do ?Bob Marley?, com um pingente de berimbau.  

Antes de eu começar a escrever crônica, em maio de 2005, um de meus anseios sempre foi restabelecer atalhos textuais que abreviassem a distância entre Marapé e Rio de Janeiro, para aonde, no entanto, eu regressava, a cada noite que ouvia funk, no radinho do meu quarto. 

Uma dessas faixas era ?Rap da União?, um dos hits de minhas férias de fim de ano na casa da tia Áurea, na Pavuna, no verão de 98. 

Seu refrão, ainda hoje, ecoa a palavra 'emociona' ao fundo de mim, ratificando minha identidade suburbana, acentuada por carioquês que, em alguma volta deste mundo, haveria de ser ?adulterado pelas curvas do Rio Itapemirim?. 

Quando puder, assista ao vídeo dentro do qual estou até agora. Você vai notar que estou ali, sonhador, a procurar por alguém que estava não exatamente naquele baile, mas do outro lado dos futuros atalhos textuais, por entre os livros de alguma biblioteca de Cachoeiro.

 

DESCOBRIÇÕES CALIBROSAS (II)

Sexta-feira, 26 de julho de 2019. Minhas idas ao hemocentro em que doo sangue vão muito além de tal ato.  

Na penúltima vez em que estive lá, por exemplo, foi maravilhoso. Quem diria que, numa agulhada de praxe, eu conheceria a expressão 'calibrosa', que me foi apresentada pela enfermeira de lá? ?Deixa o algodão pressionado, Felipe, que tua veia é calibrosa.?  

Volto ao hemocentro, nesta semana, e eis que quem faz nova descobrição não sou eu, e sim o camarada que me pareceu ser o enfermeiro-chefe do setor.

? Então, Felipe, você é jornalista... Também é petista? 

? Não. Sou comunista. 

? Liberado. Vai tomar café, vai...

 

MANHÃS DE MINHA VIDA

Segunda-feira, 6 de dezembro de 2021. Já são cinco e dezoito, ventos adentram a janela ? a do nosso quarto e a do meu peito ? com um dengo que se iguala, singular e especialmente, somente ao cafuné de tuas mãos, e a manhã enfim se descortina, com leves, mas não breves, pinceladas de um cinza que me remete aos teus lábios: as manhãs de minha vida.