Excepcionalmente nesta coluna, por motivo de força menor, o escrevedor de vagabundices - e não é isso, afinal, a crônica? - dá lugar ao eventual anotador de factuais. Antes, porém, de seguirmos com as pautas desta edição, façamos a abertura dos trabalhos (da gira) com uma oração...
Pássaros nossos, que estais nos céus,
santificados sejam os vossos cantos,
venham a vós os bons ventos,
seja tida vossa liberdade
assim na terra como no ar.
O grão vosso de cada dia vos alimente hoje,
perdoeis as nossas indiferenças,
assim como perdoeis
a quem vos tem prendido,
não vos deixeis cair em alçapão,
mas livreis-vos do mal.
Assim seja.
BANDANA DRUMMONIANA
Cachoeiro de Itapemirim registrou, ontem, a seiscentas e sem-graçonésima paráfrase drummoniana: tinha um bandana no meio do pátio. A citação ocorreu no condomínio Mais Rubi (embora minha pedra seja ametista, Blanc), no São Lucas, bairro que, apesar de nome de santo, tem espírito de porco.
O colunista, que "viaja até em palito de picolé", cogitou esboçar algumas especulações em torno do adereço. Contudo, não houve tempo. Um vizinho de boa-fé retirou a bandana do chão e a colocou, sã e salva, sobre o cano de uma caixa d'água, rente ao bloco à frente. Empatia também é poesia.
PRESENTE E RESISTENTE
Segundo matéria recente deste FATO, um dos nomes ventilados para concorrer ao título de Cachoeirense Presente de 2024 é o de Dona Maria Laurinda Adão, mestra da cultura popular da cidade. Ela que, a exemplo de mestre Pastinha, também já foi à África, mas para mostrar o caxambu do Brasil.
Batucando no couro, a coluna CHUVA FINA reforça o coro de todos os cidadãos que desejam (mais) essa honraria à Maria Laurinda, já laureada, desde sempre, por vossas altezas ancestrais, de Palmares a Monte Alegre.
POLÍTICA DO JOÃO-DE-BARRO
Durante um estouro da boiada em Copacabana, no último domingo, Nikulá-ele Ferreira disse que a política brasileira precisa de "homens com testosterona". Em provável resposta ao parlamotário, Lula gravou e postou um singelo tratado sobre o joão-de-barro, mostrando que, para governar, é preciso lirismo.
PENSAMENTO DA MADRUGA
Divididas entre dias inúteis, goles de café, TNISP (telefonemas não identificados de São Paulo) e anúncios de YouTube, nossas semanas são entremeadas, ainda, por esperanças que se esvaem ao fim da tarde, mas que se renovam à meia-noite, onde, por "increça que parível", a luz é a própria escuridão.