"O mundo é um moinho"; e nós, redemoinho

Além dos versos e, claro, desta crônica, ofereço a você, filha, meu colo e meu ombro

24/05/2024 07:57
"O mundo é um moinho"; e nós, redemoinho /Foto Reprodução Web

Filha, algo dentro de mim pede-me que eu, qual Aldir Blanc, mande meus compromissos desta manhã formarem uma fila indiana e irem, todos, à merda, para, então, eu tentar te ofertar um punhado de doçuras contra as tuas agruras, mesmo que, exatamente nesta data em que te escrevo (7 de dezembro de 2021), você não possa ler estas minhas palavras. Mas faço fé ? e axé ? que, de algum modo, os bons ventos de Oyá as levem aos teus pensamentos, ao teu coração.

 

Desde ontem, filha, ando de Cartola na cabeça...

 

?Ainda é cedo, amor

Mal começaste a conhecer a vida

Já anuncias a hora de partida

Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Presta atenção, querida

Embora eu saiba que estás resolvida

Em cada esquina cai um pouco tua vida

Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor

Preste atenção, o mundo é um moinho

Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho

Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida

De cada amor, tu herdarás só o cinismo

Quando notares, estás à beira do abismo

Abismo que cavaste com teus pés?

 

Angenor Francisco dos Santos, verdadeiro nome do Chapéu-Mangueira sobre meu ori, compôs a canção acima para sua filha Creusa, quando esta era ainda uma criança. Estou longe de ter o alumiamento de Cartola, miudinho que sou, para medicar tua alma com poesia. Bem-intencionado, pelo menos, sei que sou. Coincidência(?) ou não, fiz ontem mais uma ladainha d'Angola, na qual, em certo trecho, digo o seguinte:

 

Pedregulho forma o aluno E o pé ferido é a nota alta Andei descalço no escuro Fui aprovado sem ter falta

 

Além dos versos e, claro, desta crônica, ofereço a você, filha, meu colo e meu ombro, mais vencedores que vencidos das escuridões tantas que, empedernido, atravessei; e me valho, aqui, de uma frase que sempre me acalma: ?Vai ficar tudo bem?. E vai mesmo. Acredite. Eu amo você.

 

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Malandro no tempo dá nó,

mas não para ludibriá-lo,

e sim, em conchavo com ele,

para enganar o diabo.