Voluntários do Laguna Negra - Jornal Fato
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Voluntários do Laguna Negra

O misto de experiências e emoções que vivemos é indescritível, é difícil entender a motivação que nos leva a sair do nosso conforto


Foto: divulgação/arquivo pessoal

A expectativa toma conta...o que levaremos para esse povo? Acolhimento, esperança, solução, solidariedade, cuidado, respostas. O que traremos de lá? Experiência, aprendizado, humildade, fé? O que veremos? Miséria, doença, ou somente uma vida simples em harmonia com a natureza? Já no início a emoção do inesperado, o "frio na barriga" de viver a aterrissagem de um avião em uma pista de terra, ou melhor, de lama e depois navegar por 2h numa voadeira para chegar ao destino. O misto de experiências e emoções que vivemos é indescritível, é difícil entender a motivação que nos leva a sair do nosso conforto e nos enveredar onde ficamos longe da nossa rotina, do nosso convívio e enfrentamos calor extremo, inúmeras picadas de todos os tipos de mosquitos...e ainda assim permanecermos serenos... usufruindo do novo que nos é apresentado...o magnetismo do rio nos atraindo...a emoção de um banho de chuveiro no balançar do barco com uma enorme janela nos fazendo sentir parte daquela harmonia... do rio, da lua, das estrelas, as palavras não conseguem descrever. Navegar pelo igarapé de voadeira, sentir o vento nos trazendo o cheiro da floresta...os botos bem próximos... deparar com família morando em um barco. Contemplar a lua cheia sobre o rio como se tivesse nos dizendo sou a comandante dessa viagem e a inspiradora dos seus sonhos, pensamentos e emoções, trazendo pra nossa alma uma deliciosa leveza.
Participar da cultura local e fazer compra num "Shopping Fluvial". Casa flutuante...é preciso conhecer essa escolha tão diferente. Comer jacaré e tartaruga com dor no coração (não é caça predatória, é alimento). Comprar cartão de telefone (eles ainda existem) para usar num telefone público do outro lado do rio, podendo atravessá-lo de voadeira ou rabeta. Entender que há semelhantes que vivem sem carros, celulares, energia elétrica e diversidade alimentar...o transporte é a canoa e a comunicação é pessoal, a alimentação é o peixe que o rio trás e a farinha produzida da macaxeira plantada. E a alegria existe. O pequeno mundo faz sonhar pequeno? Não sei, mas será que o sonhar grande nos traz grandes alegrias? Contemplar o nascer e o pôr do sol sobre o rio é indescritível...só o navegar sentindo o vento nos aliviando do calor e dos mosquitos já é em si extremamente gratificante. Não sei quantas pessoas atendemos...o que sei é que parece que levamos pra eles atenção, companhia, novidade, cuidado, segurança, alívio de dores e curas de doenças... e eles deixam conosco o seu convívio com a natureza...sua simplicidade, sua fé.
Seguimos o fluxo do rio...atendendo as carentes comunidades ribeirinhas...suas assustadas crianças com a pureza estampada em cada olhar, suas guerreiras mulheres...os botos com seus saltos sempre nos dando boas-vindas...as estrelas rompendo o infinito de brilho com o seu show de cores e parece que estamos contemplando outro céu...quanta beleza o senhor Deus nos traz. E no final da missão estamos cansados...mas leves, relaxados e com o coração imerso em gratidão.

Silvana Pirchiner, enfermeira voluntária, da cidade de Linhares.
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