Visita à Escola Família de Pacotuba - Jornal Fato
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Visita à Escola Família de Pacotuba


Pensa no cara que (acha que) tem muita leitura, leitura só selecionada, e só lê o que entende importante para destino melhor para a humanidade - e às vezes acerta. Sabe o cara que é (acha que é) tudo isso, mas é meio preguiçoso para fazer visitas aqui e ali, ver ao vivo, já que prefere ler a ir a algum lugar?

Pois é, esse cara sou eu e, por isso, às vezes, quebro a cara, vez que ir ver, em boa parte, é melhor que só ficar de olhos colados na leitura. Ler é importante, mas ver coisas - já com alguma experiência de ver coisas, rostos e ações - é um pouco mais à frente, mais razoável, mais importante.

Tenho eu leitura muito grande sobre educação, mas nunca dei uma aula em escola. Meu grande Professor Carlos Passos não deixou, já lá no distante 1965, quando eu acabara de me formar no Científico do Colégio João Bley, em Castelo. Hoje acho que ele tinha razões para isso. Uma coisa é ser introspectivo, como sou, e dá até algum "ibope", diria; mas ter que falar, ter que dar presença, ter que avaliar ao vivo, é certa deficiência minha, que carrego solitariamente... mas tal está mudando, há que mudar, espero que mude.

Por exemplo, conheço, de ler, a Escola Família, aquela da Pedagogia da Alternância, na qual aluno e aluna estudam, dormem, comem, se divertem na Escola do interior, durante a semana inteira. Estudo, esporte, leitura, comida, beber e dormir é o que fazem nessa semana.

Depois dessa semana, alunos que frequentam a Escola Família partem para suas casas, no interior do município de Cachoeiro (é o caso que conto, onde está a escola a que me refiro) e também para suas casas no interior de Castelo, de Jerônimo Monteiro, de Presidente Kennedy - é escola regional. Lá, com os pais, com os irmãos, vizinhos e agregados, esses alunos aplicam na propriedade dos seus parentes aquilo que aprenderam na escola, a escolinha modesta, mas poderosa, lá de Pacotuba, ao lado do INCAPER.

Sei eu de leitura e de conversa que é grande escola, vez que grande escola é a que forma alunos com valores para o dia a dia. Pois bem, no papel é fácil acertar, e acertei, claro, mas quando você visita - como fiz - a Escola Família, essa visita, ainda que não reduza a zero toda a leitura que fiz, transforma-a em mero detalhe.

O que vi em Pacotuba, na segunda-feira fria de 18 de junho de 2018, foi uma escola quente. Cheguei; silêncio; pouco a pouco chegavam "crianças" de 14 a 17 anos, educadas, dando bom dia cordial, não falso. Meninos e meninas alegres, sabendo o que fazem ali - coisa que este modesto cronista confessa não ter tido muita oportunidade de ver, no tempo em que, naquela idade, frequentava escola. Boas escolas, sim; bons professores, sim; mas a alegria que vi em Pacotuba, não era comum ver nos meus tempos de estudante e, por isso, não estava na minha imaginação ver. E vi.

Passei pela cozinha, muita limpa e ampla, serviram-me café de qualidade e pedaços de bolo de milho tão bons quanto. Segui perambulando pelas classes, ainda vazias - era cedo -, pelos imóveis simples, limpos e conservados, passando até por pequenos macacos que andam fazendo estrago por lá, mas não podem ser liquidados - são da natureza.

Conversei com diversos alunos, inclusive uma mocinha quilombola que conhecia bem D. Maria Laurinda, patrimônio de Monte Alegre e vi: ali estava a escola de meus sonhos, que eu quase nunca vira, mas vi naquele dia. Antes, só lera sobre elas.

Agradeço ao diretor, Prof. Marcelo, que nos recebeu tão bem, e nos contou a história dos apenas oito anos da escola em Cachoeiro - 50 anos no Brasil.

Claro que deixei livros na biblioteca da Escola e, proximamente, levarei mais e, se possível - será sim - levarei amigos, cidadãos de qualidade que querem o melhor para as futuras gerações e são quase tão desconhecedores dessa maravilha, quanto eu, até às 9 horas de 18 de junho deste ano.

 

Maquiavel e o Príncipe

Pra não dizer que não falei de Maquiavel nesta página, não custa lembrar que algumas obras tem o caminho da eternidade à sua frente, e isso não é frase de efeito. Como confessei na crônica aí de cima, sou leitor relativamente viciado e estou sempre examinando a lista dos livros mais vendidos, em qualquer lugar que ela apareça; quase sempre na revista VEJA, que tem sua lista a 50 anos, desde o primeiro número, ano de1968.

Agora, nesses nossos tempos modernos de tantos políticos ladrões e canalhas (nem todos, claro), um livro especial tem aparecido, com frequência, na lista dos 10 mais vendidos no Brasil (de não ficção). É O PRÍNCIPE, de Nicolau Maquiavel.

Livro concluído em 1513, só foi publicado em 1532, pouco depois da morte de seu autor - já naquele tempo o seu texto assustava e era "problemático". E que fique claro que esse "problemático" nada tem a ver com aquele "os fins justificam os meios", que Maquiavel nunca disse ou escreveu. Esse "problemático" é para essa gente que anda sendo condenada por aí, ou ainda vai ser, mercê da roubalheira que praticaram nos cofres da desgraçada nação brasileira.

A leitura de Maquiavel é mais apropriada justamente em tempos obscuros como estes que vivemos, vez que ele, vivendo época semelhante, colocou, n'O PRÍNCIPE, todas as maneiras adequadas de descobrir a canalha e suas armadilhas.

Experimente o leitor ler O PRÍNCIPE (que tem, só em português do Brasil, mais de 50 edições atuais, de editoras diferentes) para se inteirar mais de nosso momento político - não estou brincando.

Não é por outro motivo, se não esse, que o livro de Maquiavel por diversas vezes aparece na parada de sucesso dos livros mais vendidos. A revista VEJA semanalmente levanta dados de mais de 200 livrarias de todo o Brasil, para fazer sua relação de mais vendidos. Em três ocasiões, neste ano, O PRÍNCIPE estava entre os dez mais vendidos de não ficção.

(Apague tudo aquilo que te ensinaram errado sobre ele e você será menos tolo, certamente).


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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