Tempo - Jornal Fato
Artigos

Tempo

Com tempo toda injuria e frugalidade vão empalidecendo, até esmaecerem-se, definitivamente, para dar lugar à verdade e a bonança


Dizem que o tempo é "senhor da razão". Concordo. Com tempo toda injuria e frugalidade vão empalidecendo, até esmaecerem-se, definitivamente, para dar lugar à verdade e a bonança.

Precisamos de tempo para pensar. Precisamos de tempo para viver. Precisamos de tempo para amar. Hodiernamente, o tempo reservou seu tempo para o mísero e obrigatório tempo das obrigações de fazer.

Assim, certamente, vivemos sob esse jugo. Fadados a arrastá-lo como um grilhão que, com o tempo, vai se enferrujando, mas não se parte ou perde. Suas medidas são sempre exatas, e a exatidão, às vezes, é algo doloso, na pior concepção, contra a própria vida.

Quiçá usufruíssemos, ou pudéssemos usufrui-los para coisas mais prosaicas, no entanto, tão importantes. Coisas singelas, que além de enternecer o coração, coroam a alma com virtudes desconhecidas.

O fato é que precisamos de tempo para ver o sol se pôr. Faz muito tempo, não tenho tempo para o ocaso. Não me lembro da cor alaranjado do sol poente, dependendo da estação do ano.

Não me lembro de ter tempo para ver melhor seus olhos. Há um mar inteiro, transitando nas retinas, e duas pupilas a boiarem. Me fadigam os apressados. Os "coelhos da Alice". Os que nada dizem senão ver os ponteiros de seus relógios.

Faz tempo não degusto vinho, apreciando em ti muito mais que as uvas, a escorrer nos lábios. Faz muito tempo mesmo que não desenho tua face com os dedos, não toco, imaginariamente, o céu. Faz tempo que não tenho tempo, e de tanto não o ter assim, o perco, incontáveis vezes, até perdê-lo, para sempre.

A escolha é torturante. As revelações múltiplas, somos escravos do tempo, mas no fundo ele sempre nos pertenceu e seu ritmo, sem direção, tem o norte na palma de nossas mãos.

Preciso arregimentar forças e encarar o fato de que, inevitavelmente, o tempo está se escoando entre os dedos de minha mão, feito areia que, diante da primeira lufada vai-se, e não retorna mais.

Na visão do poeta, um dos deuses mais lindos. Na minha, a alma que orbita ao redor de minha própria existência. Ai de mim sem sua presença. Ai de nós com sua escravidão. Que ele nos seja leve e generoso. Que nos permita o primeiro cálice, o primeiro olhar e o primeiro beijo.

 

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

 

Tu és...

 

Tu és esse sopro de vida, andaluz e novo, sobre a carne doirando inteira na soleira de minhas portas.

A própria chave, que vai e volta, do sagrado advento. Me olhas e, decerto, é ouro seu olhar vivo. Tesouro todo teu sorriso.

Se tua lágrima lânguida se precipita, estendo-me, copiosamente, entregando meu corpo ao teu consolo, no remanso do teu colo, para que descanses.

E assim, amo-te, imensamente, feito chama incandescente e acende. À sombra da tua árvore, sob a luz do teu sol. Amo-te mais do que, celeste o cenário etéreo que se pode amar, tal como um farol, cuidando do único marinheiro incauto, no assombro solitário das tempestades, perdido em alto mar.

Amo em ti, ao teu redor. Em qualquer lugar. Em ti, amo tudo que há

E nada em ti feito é feito sem tempo e lugar. Vá para onde for. És vênus, deusa do amor. E se me abraças, nesse processo onde nada mais falta. És o mais cândido universo.

Planetário inteiro.

Deixo para ti, amada, que emerge das profundezas de todas as aguas lívidas, as esfinges prateadas do Egito, e o meu verso mais vivo, mais cativo e sublime.


Giuseppe D'Etorres Advogado

Comentários