Recebi de presente o livro "Mortais", autoria de Atul Gawande, que trata da finitude da vida, de cuidados paliativos e também das Instituições de Longa Permanência para os Idosos - novos conceitos e melhoria do atendimento. Algumas sugestões considerei inviáveis no Brasil, devido ao preconceito, mas já estão se disseminando na Europa, Estados Unidos e Canadá. O que desejo partilhar é o possível, para melhorar a qualidade de vida dos idosos.

Em estudos sobre o envelhecimento se dá ênfase à miscigenação de gerações, porém tal fato é pouco comum. Os jovens, em geral, vivendo numa velocidade máxima, possuem pouca paciência com os idosos, já em situação de letargia. E as crianças, quando agitadas, podem causar acidentes e até quedas. Resumindo, crianças correndo no meio de idosos é perigoso para quem é fragilizado. Por conta desses fatos nunca estimulei a presença delas entre os hóspedes da Vila Aconchego, ressalvando-se naturalmente os das próprias famílias. O livro Mortais abriu-me nova possibilidade - de tentar inserir crianças maiores, tranquilas e que já convivam com idosos em suas casas. Convidei filhos dos funcionários e posteriormente crianças da comunidade, para um lanche em que serviriam aos idosos e a eles próprios. Recebi as crianças que foram identificadas por crachás, expliquei a atividade e deixei por conta delas. Foi uma experiência enriquecedora. Os sorrisos dos idosos emocionava, os ranzinzas se derreteram, os que se alimentavam com dificuldade aceitaram o alimento oferecido na maior alegria. Alguns até as convidaram para conhecerem seus aposentos. O grupo foi denominado de Cuidadores Mirins e se prontificaram a retornar quando convocados.

Outra sugestão se refere aos animais. Havia muitos pássaros na Vila Aconchego, canários em profusão, e por conta desse fato começaram a surgir gatos que se apossaram do espaço. Contudo gatos não são naturalmente sociáveis, eles escolhem amigos especiais. Têm também muitos saguis no local, mas livres e interagem somente com quem os alimentam. A sugestão é de se inserir cães pequenos, dóceis e que se adaptem ao grupo. E pássaros, que poderiam ser apreciados num grande viveiro. Idosos necessitam de estímulos à vida e cabe a nós oferece-los. Os resultados compensam.

Marilene De Batista Depes