Reflexões urbanas de uma terça-feira apática - Jornal Fato
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Reflexões urbanas de uma terça-feira apática

Reflexões urbanas de uma terça-feira apática de um inverno mequetrefe de Cachoeiro


Reflexões urbanas de uma terça-feira apática de um inverno mequetrefe de Cachoeiro: aconteceu um acidente na porta da minha casa. Não foi bem na porta, mais há 5 metros de distância, que já considero dentro da minha cara praticamente. Um carro colidiu com um ciclista. Tudo bem rápido. Que nenhuma onomatopeia teria a perspicácia de representar graficamente esse som tão feroz.

Só deu tempo de parar o meu filme da Netflix, uma comédia adolescente por sinal, e ligar para os bombeiros. Confesso, que é tão louco isso, que eu disquei o número no inconsciente, e se me perguntassem o número deles, agora, nesse exato momento que lhe escrevo, de primeira, eu iria errar, com toda certeza. Enfim, no meio do nada surgiram aglomerados de pessoas - me lembrei do The Walking Dead; bem curiosas por sinal, motivados pelo desejo insano de descobrir a identidade do garoto, que acredito, está bem agora. Espero, né gente!?

Procuramos por documentos nos bolsos do menino. Aparentemente fiquei preocupado, pois parecia um adolescente conhecido, mas ninguém que chegava perto o reconhecia. Sem documentos, não tinha como saber seu nome. Percebi mais uma vez a importância de andar com documentos, sei lá, mesmo que seja para ir à padaria. E o mais louco, que eu conhecia o menino, era meu amigo das redes sociais, porém na loucura do nervosismo você não raciocina, né? A vontade de ajudar supera a racionalidade da gente e tudo fica embaralhado numa dança bem frenética de frevo com axé.

Refleti também que muitas pessoas, como eu, depois que fui assaltado, deixam o celular bloqueado. No meio disso tudo, tentei vê um contato, no qual eu pudesse ligar para um parente ou amigo, para avisar sobre o garoto, mas o celular estava bloqueado. Que loucura né? Colocamos senhas nos celulares para proteger nossas informações e intimidades, mas ao mesmo tempo podemos fragilizar uma comunicação de suma importância. Ah sorte, que a irmã do menino estava ligando nesse exato momento, foi Deus gente.

Também fiquei pasmo com a quantidade de pessoas que surgiram de repente na minha rua deserta, até então. Mas, assim como eu, todos acharam que era uma criança da rua e correram preocupados. Afinal, mês de férias essas crianças estão por toda a parte. Que ressaltar, que pessoas precisam deixar de ser teimosas, eu sempre aprendi, mesmo antes de fazer autoescola, que quando ocorre um acidente não devemos locomover a vítima, pois pode prejudicar a situação. Mas, acho que a vontade de ajudar é tanto, que as pessoas acabam agindo na ignorância e não pensam que podem piorar situações que até então, seriam simples.

 Só isso tudo numa tarde bem apática. Tirei muitas reflexões de um fato que com certeza virará crônica. Só é revoltante que o resgate demore tanto, a situação de presenciar a pessoa desesperada é horrível, enquanto gritávamos " o resgate já está chegando", mas sem noção de quanto tempo esse "chegando" poderia demorar. Aliás, o uso do gerúndio nessas horas é a melhor forma de acalmar uma vítima agoniada.


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