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Receita Literária

José Eduardo Agualusa, escritor angolano, escreveu sobre a importância das palavras


José Eduardo Agualusa, escritor angolano, escreveu sobre a importância das palavras. A magia da cura de vários males humanos pela manifestação escrita ou verbal. Destacou a poesia, o poder do som poético nos sentimentos humanos e consequentemente na mudança de comportamento de pessoas perante as coisas da vida ao serem despertadas em seus sentidos. Considera a poesia mais eficaz que livros de autoajuda. Nestes livros somos carregados por frases de efeitos; na poesia vamos amadurecendo com a visão e audição. As crianças são diferentes, na espontaneidade, descrevem palavras poéticas, despertam o melhor de nós, basta ficarmos atentos. Agualusa fala das britânicas Susan Elderkin e Ella Berthoud, que escreveram "Um receituário literário de A a Z", literatura para as nossas melancolias. Uma terapia para a depressão. A cura pela palavra, ele diz.

Após a leitura do texto de Agualusa me lembrei dos nossos hospitais: Hospital geral - Enfermaria e UTI; do Hospital Infantil e Psiquiátrico. Nesses hospitais a busca é pela humanização, algo prioritário nos cuidados da saúde. Várias ações são incrementadas, tais como: música (coral de pacientes, familiares e funcionários), caminhadas ecológicas, acolhimento com classificação de risco - graus de urgência no atendimento do pronto-socorro e médicos da alegria.

Mesmo com todas essas ações, visitantes em hospital - amigos e familiares, muitas vezes, encontram-se juntos aos pacientes e, por momentos, a palavra desaparece. É verdade que a simples presença, o toque, o olhar de uma pessoa amiga é reconfortante. Ainda assim, pela falta da palavra, podemos nos sentir perdidos. Quem sabe a poesia, um trecho poético, algo que desperte e que faça modificar o momento presente e futuro, desperte os sentidos. A poesia é capaz disso. Ela pode despertar a memória ou preencher nossos esquecimentos. De Ferreira Gullar: Quando você for se embora / moça branca como a neve, me leve / Se acaso você não possa/ me carregar pela mão,/ menina branca de neve,/ me leve no coração/ Se no coração não possa / por acaso me levar, / moça de sonho e de neve,/ me leve no seu lembrar/ E se aí também não possa / por tanta coisa que leve/ já viva em seu pensamento,/... me leve no esquecimento.

Sobre as nossas fragilidades e medos, Libério Neves escreve: Se, por acidente, moléstia ou velhice, algum dia eu vier a ver-me (resto) imóvel no lençol, a depender, por caridade ou pelo amor, do vosso gesto difícil, esse gesto de lavar meus panos de matéria e de limpar os meus resíduos deste mundo... / isto será profundo para vós e doloroso para mim. / E certamente é certo que não terei palavras, nem gestos, para vos agradar./... quando (eu) assim restar, imovelmente mudo, contudo ainda vivo, estarei à todo instante, em mente, beijando as vossas mãos em mim santificadas... essencial talvez à filtração da alma.

Após reler Ferreira Gullar, Libério Neves, Drummond, Alberto Caeiro, Manuel Bandeira e alguns outros, pensei... Para os momentos em que falta a palavra em leito de hospital (UTI, Enfermaria), ou em seu pátio, como visitante ou enfermo, gostaria de ouvir e sentir, a poesia da pessoa amiga, lida da forma mais simples, vinda do fundo da alma.

 

Sergio Damião Sant'Anna Moraes

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Sergio Damião Médico e cronista

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