Que o raio divino caia sobre a cabeça... - Jornal Fato
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Que o raio divino caia sobre a cabeça...

Basta atravessar a ponte suspensa no ar, segura por cabos de aço que a ata às margens


(A crônica abaixo, eu escrevi em março/2004, mais de 15 anos passados. A Ilha do Meirelles não corria perigo. Hoje corre perigo, por culpa e ação de governo dito socialista. Que o raio divino caia sobre a cabeça de quem quer fechar definitivamente a Ilha do Meirelles).

"Basta atravessar a ponte suspensa no ar, segura por cabos de aço que a ata às margens, para chegar ao Paraíso - em Cachoeiro. Paraíso natural que pouco a pouco recupera viço e vida, dados pelas carinhosas mãos de professores, técnicos e alunos da São Camilo.

Fui lá, num desses últimos sábados e, após atravessar a parte suspensa da ponte, achei outra menor, recentemente construída e que se estende por sobre pequeno lago artificial de águas borbulhantes (acho que vi) e, nas margens, bambus, plantas e flores, com certeza de nossa região. Depois, por toda ilha, a vegetação rasteira se impõe, plantada pelo homem, bem se vê, e já integrada à natureza. As mangueiras estão muito mais bonitas; muitos pássaros e muito verde completam a ilha que Newton Meirelles deixou para Cachoeiro e Cachoeiro, com o pessoal da São Camilo, cuida dela, para que crianças e adolescentes, estudantes e admiradores da natureza possam se aproveitar do Paraíso, nome que repito, à falta de nome melhor.

Quando tantos falam em devastação da natureza, muitos só por ouvir dizer, pois não sabem ou não têm coragem de se afastar de casa, o florescimento da Ilha do Meirelles é um marco. Marco para ser visitado, cheirado, andado e admirado. A passarada está toda lá e o espaço natural vai ganhando a companhia de alguns equipamentos de uso, também integrados à natureza. Bancos rústicos de madeira, pequenas construções também de madeira, eles vão aparecendo, para permitir estudos e contemplação, algazarra e alegria das crianças.

Um dia, quando a Prefeitura (Ferraço) entregou à São Camilo aquela ilha, eu chorei. Chorei porque, naquela entrega, via começar o sonho de Newton Meirelles, amigo, colega, professor, pai, cidadão, socialista, um santo, incapaz de grosseria ou mentira. O sonho de entregar à cidade que escolheu para viver e morrer, um espaço onde se respeitasse a vida e a natureza, aonde as crianças pudessem passear despreocupadas e livres. Livres, soltas e aptas a aprenderem as boas lições do ambiente sadio e natural. Onde fosse proibida bebida alcoólica e as construções, se necessárias, não agredissem a natureza.

Meirelles, que se fingia de ateu, pois dava graças a Deus por todas as bênçãos que obteve, principalmente por aquelas que ele mesmo proporcionava aos seus semelhantes, deve estar, agora, no céu, junto com as crianças que foram antes. Olhando pelas crianças daqui, que breve correrão pela ilha - Ilha do Meirelles -, ou melhor, a Ilha das Crianças, conservada por Newton Meirelles, até que a USC - União Social Camiliana - e, com certeza, São Camilo de Lellis - resolvessem, junto com outros parceiros, conservá-la e nela levantar construções ao modo Meirelles.

Talvez eu chore outra vez, quando a obra que se inicia seja completada. E quando completada, seja, a cada dia, a renovação da homenagem aos justos como Meirelles e aos inocentes como as crianças".

 

Prédios Antigos no Centro: Não escondam

Maria Luiza Andrade

Muito se tem discutido a questão do centro das cidades e de seus prédios antigos.

Geralmente é onde se encontram os Patrimônios Históricos, casas mais antigas, tombadas ou não, com importância e memória afetiva, coisas de décadas. Não é diferente em Cachoeiro.  Porque algumas casas tão belas e representativas estão escondidas atrás de placas enormes de anúncios?

Há de se preservar as fachadas, onde se conta a história da cidade, suas grandes mudanças e sua resistência.  Não podemos deixar que nossa memória se apague em nome de falta de legislação ou de apreço. Temos belos prédios que resistem e, se não aptos a tombamento histórico, por não haver valores arquitetônicos e artísticos, contam nossa história de cidade.

Merecem nosso respeito e admiração em nome da história da cidade e do bom gosto, pela cultura e pela arte.  Nosso bairrismo não pode ser abafado pela modernidade tão líquida. Lutemos pela valorização!  Há lugar para eles, prédios antigos.

Não decretem seu fim, não os escondam. Valorizem-nos, como os proprietários dos imóveis registrados nesta página fizeram!  Cachoeiro agradece.

(A autora, cachoeirense, é arquiteta-urbanista).

 

O Pássaro Solitário

Genilda Bahiense de Lima

Zezinho era um pássaro muito só. Ele vivia numa floresta onde havia muitos pássaros e outros animais. Lá, até as árvores eram falantes.Certo dia, Zé chamou um pássaro, que se encontrava numa linda árvore, para passear com ele. E falava:- Vamos dar uma voltinha?O pássaro que Zé pensava que era o seu único amigo o ignorou, e saiu rapidamente em bandos. Zezinho chorou e pensou: - "Por que todos me abandonam assim?"A árvore onde o pássaro estava acostumado a ficar adivinhava pensamentos, e disse: - "Não ligue não, eles são assim mesmo. Fazem isso simplesmente porque devem ter mais o que conversar, ao contrário de você, jogam muita conversa fora."O Zezinho, que já soluçava de tanto chorar, refletiu sobre o que a árvore falou. Ele percebeu que esta árvore era maravilhosa! Pelo menos, ela o compreendia!Zezinho já não cantava mais, mas, como a árvore onde ele mais  ficava era legal, e as outras árvores vizinhas também foram ficando bacanas, Zé se tornou o pássaro mais cantador do "pedaço".O bando, de vez em quando, o olhava e dava gargalhadas, dizendo: - "O Zé, coitado, está pensando que canta melhor do que nós!" E continuava a provocar: - "Preste atenção, rapaz!" Era uma verdadeira tentação!Porém, o pássaro foi ficando cada vez mais esperto, com o incentivo da árvore onde ele mais ficava, e resolveu arranjar um júri para desmascarar os outros pássaros. Chamou uma cobra verde, que sempre estava por ali e pediu para ela percorrer a todos os lugares onde se encontrasse algum bando de pássaros, e prestar atenção na canção deles.A cobrinha andava, rodava... Mas, só ouvia o canto daquele pássaro. Os outros nem cantavam, só davam uns pios, para implicar com o pobre Zé.Passados  alguns dias, a cobra gritou:- Você é, praticamente, o único e melhor cantador desta floresta, Zé. Fique tranquilo!Zé, a partir daquele dia, conseguiu até alguns amigos: os bem-te-vis. E passou a voar alegremente para várias outras árvores. E todas as árvores os saudavam: - Seja bem-vindo, Zé!, - Seja bem-vindo!, - Seja bem-vindo!

(A autora, Genilda, oferece suas crônicas e poesias ao lado da casinha do Livres Livros, frente ao Bernardino Monteiro, centro de Cachoeiro - eu nunca vira isso, antes - que bom!)

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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