Eu valorizo a fina marola, sobre o dorso dos pés. Aquela rebentando sobre a areia branca, mais branca ainda, nas longas noites enluaradas. E conversas sem tanta profundidade.

O prazer não consiste nas palavras ou conteúdo, mas no som da voz, no ato infinito e sutil de olhar nos olhos e, mesmo à noite, conseguir ver o brilho do sol, no olhar daquele que escuta.

Coisas simples e tão importantes, tal como dedos entrelaçados e braços que se tocam, quase sem querer, e por vocação do destino devotam-se às coisas singelas que, mesmo na singeleza, sublimam, absolutamente tudo, transformando o mundo que nos rodeia, num lugar glorioso, pela grandeza encerrada em cada um desses simples movimentos. Oh, Quanta beleza existe em tão pouco. Quanta beleza há em conectar-se com a beleza real. Não aquela que confunde e se evapora incontinente, mas a beleza tangível, como a luz da aurora, seus primeiros raios rutilantes. Algumas coisas tão boas, temos todo tempo, e não temos tempo para elas. Vivemos numa espécie de transe, confundidos e aos poucos, pelo frenesi das horas, e por exercício continuo da negação amiúde, olvidando, o bom da vida, dentro de cada declaração de amor à simplicidade que há em cada criatura, cada gesto e cada ato.

 

***********************

 

Tenho pena.

 

- um crucifixo dependurado, revela o lado tardio da imensa dor.

Seja onde for, tenho dó de quem não ama

Dos paralíticos presos nas próprias teias

Do trema extinto, na palavra viva.

 

De cada nó nos dedos.

Dos medos da imagem lateral

Da cal que sepulta o beijo

 

Tenho enorme pena do não amante, deselegante e impiedoso, feito de veias entupidas e artérias decrepitas.

 

Amor, a flor em chamas!

A cama imensa e verdejante, cheia de quem se ama

 

Flamula aberta na amplidão

Mãos atadas às outras mãos que se vão, todo tempo no espaço de um abraço intrépido e subtil

 

E o poeta chama toda a poesia e a concita:

- Viu a maravilha? Onde está. Que esteja lá, e seja amor, ainda torto.

 

Que lamento!! Tenho pena de quem não ama...