Por que grita? - Jornal Fato
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Por que grita?

O que posso afirmar hoje é que detesto que falem comigo em tom de voz elevado


Não me recordo se o trauma vem da infância, se era comum na família a comunicação aos gritos - o que é assustador para uma criança. Não descarto a hipótese por trata-se de uma família de italianos, e esses normalmente se comunicam aos berros. O que posso afirmar hoje é que detesto que falem comigo em tom de voz elevado, principalmente se vier acompanhado de cara feia. Incrível como gritos são capazes de me fazer murchar, secam minha energia e me deixam totalmente apática a ponto de perder todo o elã vital. Gritos me desmoronam.

Eu mesma, devo confessar, já gritei com meus filhos, por impaciência, por viver sobrecarregada de tarefas e por outros motivos que não se justificam e dos quais arrependo-me. Com meus netos vivo outra realidade, graças a maturidade que nos transforma em seres mais conscientes.

Mas retornando aos seres gritadores e que não sabem dialogar, que tentam defender seus argumentos aos berros, é notória a incapacidade deles. Falta-lhes consistência de conhecimento, falta-lhes humildade, enfim falta-lhes educação. Mesmo num grupo que discute um tema de forma acalorada, os fundamentos de quem sabe se expor são muito mais consistentes. E sempre numa tonalidade de voz que não agrida ao outro, nem ao meio ambiente e muito menos as boas maneiras.

Vivemos num mundo excessivamente barulhento, o que vai causando nas pessoas uma exaltação que as leva a uma paranoia coletiva. Ouve-se música altíssima, os jogos, denominados vídeos games, utilizam o som para causar efeitos especiais e impacto, os filmes de ação são produzidos com mais barulho do que diálogos, e vivemos no meio dessa barulheira constante e ela vai afetando os nossos sentidos. Podemos nos proteger fugindo para um espaço de sossego a fim de restabelecermos a nossa sanidade mental. Ou mergulhar na insanidade coletiva e considerar normal adaptar no carro várias caixas de som e estacionar num local público, ligar a parafernália e que se danem aqueles que não compartilham do mesmo gosto musical. Em lojas que colocam uma pessoa na porta gritando as suas promoções, normalmente atravesso a rua para fugir da agressão sonora, exatamente o que faço em todas as outras situações semelhantes. E assim toco a vida.

 

Marilene De Batista Depes

  


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