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De um ponto de ônibus a visão é panorâmica, e todos os momentos são flagrados pela lente de nossos olhos


Por Rebecca de Araujo Ribeiro

 

De um ponto de ônibus a visão é panorâmica, e todos os momentos são flagrados pela lente de nossos olhos.

De um ponto de ônibus tudo é passageiro.

De um ponto de ônibus observamos o que nem imaginaríamos ver, passamos a olhar e deixamos, muitas vezes, de viver. Começamos a tomar certa forma, ali sentados esperando, sem saber o que fazer, e, por fim, passamos a fazer parte da paisagem sem, nem sequer, perceber.

Do ponto de ônibus à vida que está à frente de nós, tudo pode acontecer.

Um dia desses, por exemplo, vi um senhor caminhando do outro lado da rua, vi que ele cambaleava um pouco, já alterado pela bebida se agarrou a uns arames farpados e agachou, parecia que iria invadir o terreno, mas, ao contrário disso, ele levantou com uma sacola suja, pôs areia dentro dela e seguiu seu caminho agarrado àquele plástico.

Vi um homem deitado na avenida, embaixo do carro recém quebrado, no meio do caminho, vi muita gente passando, olhando, e ninguém ajudando.

Vi um casal, ele atrás dela, ela em lágrimas.

Vi crianças, algumas com os pais, outras sem ninguém.

Vi uma batida de carros, vi pessoas brigando, vi a polícia chegando.

Vi expressões cansadas, vi sorrisos educados, vi o céu, vi fotos sendo tiradas.

Vi a hora passar, e, então, vi meu ônibus chegar.

Todo dia a gente vê tanta coisa...

Mas nesse momento me vi, me vi passageira. Passageira de todos os dias.

E vi, também, que ninguém precisa, necessariamente, de uma passagem, para ser passageiro; todos nós, da vida, já somos.

Por isso, precisamos deixar de apenas observar e começar a viver.

Estamos só de passagem.

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