Os samaritanos - Jornal Fato
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Os samaritanos

Às vezes acordo sobressaltada, imaginando a agonia dos que não possuem abrigo decente para se protegerem


Há poucos dias nossa cidade foi invadida por uma rara onda de frio. Não possuo muita resistência a esse tipo de clima, e uma sensação de culpa surge a cada noite, enrolada nos cobertores. Às vezes acordo sobressaltada, imaginando a agonia dos que não possuem abrigo decente para se protegerem.

E na sala de um consultório uma senhora desabafa: -  Cachoeiro já não é a mesma! A cidade foi invadida por mendigos e marginais. Não se pode nem andar nas ruas, de tanto pedinte. Fiquei ouvindo calada, e como eu não concordava nem discordava, ela se exaltou e começou a citar o clássico - vi na televisão que estão roubando, que são perigosos. Vi na televisão! Nada contra os jornais da televisão, apenas é o argumento de quem não lê e não se aprofunda, deu na TV, é verdade absoluta e não há controvérsias. Continuei calada e assim prefiro me manter em muitas situações. Que adianta argumentar?

Os moradores de rua, em geral, não são assaltantes. São pessoas marginalizadas em consequência das drogas, relegados pela família, que sofreram e sofrem todo tipo de repressão e segregados pela sociedade, que estabelece padrões de conduta dentro de regras estritas. E o humanismo que deveria ser inerente em cada um de nós se perde na conduta preconceituosa e acusativa: - Gentalha! Estão nas ruas porque querem! A Prefeitura deveria colocar todos num ônibus e abandona-los bem longe! E na verdade só existe uma palavra para resumir o que pode ser feito: - Acolhimento. Recolher, o antônimo, é o que se faz com o lixo que descartamos da nossa casa. E gente não é lixo.

E o Evangelho do bom samaritano exemplifica o nosso papel. Um cidadão foi assaltado, ferido e atirado na estrada e por ele passaram indiferentes um sacerdote e um levita - os religiosos da época. Um samaritano, relegado pelos judeus, foi quem sentiu compaixão e prestou socorro ao infeliz. Espírito idêntico é o que mobiliza pessoas caridosas, católicos, espíritas, evangélicos e agnósticos, a praticarem a verdadeira fraternidade, fazendo ronda noturna e atendendo com alimentos, vestuário, agasalhos e higienização, aos nossos irmãos que vivem nas ruas, marginalizados pela situação de vida, feridos e machucados de corpo e alma. Felizmente os bons samaritanos também vivem entre nós. 


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