Os processos seletivos e nós, reles mortais! - Jornal Fato
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Os processos seletivos e nós, reles mortais!


O texto a seguir traz um pouco das minhas inquietações, e angústias a respeito de processos seletivos. Isto pode ser considerado um desabafo, ou apenas uma - ácida- reflexão de uma profissional que trabalha "selecionando pessoas", no mercado de trabalho.

Para começar, fico abismada com a quantidade de exigências que os empregadores têm feito. A ponto de escolherem 10 pessoas para uma vaga e, ao final, chegarem à conclusão que,"ninguém atendeu às especificações do cargo"! É que esses cargos devem ser só para mega-profissionais! Que ousadia!

É claro! O sujeito não tinha as tais competências comportamentais, e técnicas tão necessárias para o mercado! E é tão fácil reunir tudo isso gente! Você só tem que ser: proativo, resiliente, criativo, dinâmico, saber trabalhar em grupo, ter liderança, responsabilidade, pensamento sistêmico, saber gerir a ansiedade, ser prestativo e, pensa que acabou? Não! Afinal, não venha com essa de ser só, um reles mortal! 

E aquelas perguntas básicas que fazem? Qual a melhor resposta?

1-Fale-me sobre a sua família - Tradução: dê um sorriso, e diga que você tem uma família de propaganda de margarina! Na sua casa todo mundo se dá bem! Ninguém briga! É tudo lindo! E reze para acreditarem, afinal, o selecionador não conhece nada, de dinâmica familiar! 

2- Quais são suas qualidades? Não é hora para ser modesto! Nada de dizer: "ai, é tão difícil falar sobre as qualidades..." Agora é hora de você soltar todas aquelas pérolas, que decorou nas reportagens "de como se dar bem em processos seletivos"! Ah, eperfeccionista não pode faltar!!! 

3- Quais são seus pontos fracos? Essa pergunta, meus queridos, ninguém merece! Tem algum ponto fraco, ou defeito bom? Se alguém souber complementa aí, porque até hoje estou tentando encontrar!

4- Metas futuras - Ninguém especificou que eram metas profissionais, não é? Então, o que os entrevistadores têm contra as pessoas que querem se casar e ter filhos? É claro que se esperam respostas como, fazer mais cursos de qualificação (porque os que você tem, ainda não são suficientes), faculdade, pós-graduação, MBA, mestrado, doutorado, mas as pessoas também têm o direito de se colocarem fora dessa "roda-viva"! Um viva para eles, então!

5- Pretensão salarial: Fatídica! Não adianta! Você nunca vai ganhar tanto quanto gostaria, pois é a "lei da oferta e da procura"! E lá no início do texto, ainda falamos dos selecionadores que se dão ao luxo de convocar vários, e não escolher nenhum... Quanta incongruência e desrespeito!

A verdade é que escrevi tudo isso, para as pessoas que estão passando, passaram, ou passarão por processos seletivos! Ser escolhido traz uma sensação de vitória enorme! Porém, a minha preocupação é com aqueles que não passam nesse "filtro". Sabemos que uma recusa dói, e vai doer quanto mais estiverem envolvidos ali, sonhos, desejos e esperanças! Todavia, um processo seletivo não é balizador da capacidade de ninguém!

Você pode ter experiência, estudar, abdicar de uma série de coisas, falar a verdade na entrevista, enfim, dar o seu melhor, e isso ainda não ser o suficiente para alguém! Isso não é demérito! Isso é injusto?!

Eu concordo! Justo seria se todos nós tivéssemos direito a emprego, saúde e educação, sem precisar ser escolhido para isso, ou se sentir privilegiado por ter isso!

 

Fabrícia Rodrigues Amorim Aride

Psicóloga e Mestre em Psicologia, especialista em docência do ensino superior e gestão empresarial, docente e profissional na Espaço Elenco

 


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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