Malhação - Jornal Fato
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Já há alguns anos faço academia - musculação, para ser mais preciso. No começo foi para não ficar parado, depois foi para atender a uma recomendação médica, mesmo. É que eu tenho uma hérnia de disco entre as vértebras L4 e L5 que de vez em quando dá sinal de vida. Assim, como forma de me prevenir contra crises futuras - apesar de já ter tido algumas - continuo a fazer, agora intercalada com aulas de Pilates.

Academias são um espaço bastante democrático, em minha opinião. Onde faço, num clube de Cachoeiro, por exemplo, há desde adolescentes até senhores septuagenários; pessoas de todos os gêneros e de praticamente todas as classes sociais. Há os marombados - nem sei se ainda se usa este termo, hoje em dia - os que atendem a prescrições médicas, como eu; também há os que vão pela azaração, se bem que no horário que eu frequento, às sete da manhã, praticamente não há nenhum representante desta categoria. E há, também, aqueles que vão para lá somente para rever os amigos e colocar a conversa em dia. Enquanto isso, entre uma conversa e outra, exercitam-se nos aparelhos para passar o tempo.

Contudo, há um comportamento que é praticamente comum a todos que frequentam a academia. Quando se utilizam os halteres, pesos ou colchonetes, esses raramente são colocados de volta aos seus lugares originais; eles ficam espalhados pelo chão da academia. Assim, quando algum aluno quer utilizar um determinado halter, precisa ficar procurando onde ele está - dificilmente estará na prateleira onde deveria estar, junto com os outros.

Admito que eu mesmo já me comportei com alguma falta de cuidado; nunca pensei em limpar o colchonete após sua utilização, apesar de sempre coloca-los de volta onde os peguei. Até que um dia observei um aluno, o senhor Luiz, limpando cuidadosamente um colchonete. Pensei que ele iria utilizá-lo, mas para minha surpresa ele o estava colocando de volta, junto com os outros que supostamente deveriam estar limpos. Ou seja, pegou o equipamento, utilizou, limpou e colocou de volta onde estava. Fiquei ali, em pé por alguns instantes, pensando no que tinha visto. A partir desse dia sempre limpo o colchonete que uso.

Lembrei-me de um ditado dos tempos de faculdade que dizia que as palavras voam, a escrita permanece mas os exemplos arrastam (verba volant, scripta manent, exempla trahunt). E então se torna difícil para mim não me perguntar: quantas vezes eu sei o que deve ser feito mas não o faço, talvez justamente pela falta de um (bom) exemplo? Melhor ainda, por que não posso eu ser o bom exemplo? Começar a fazer o que precisa e o que deve ser feito?

Sim, é preciso perder esse costume de sempre se esperar que alguém tome alguma providência a respeito de tudo; de sempre esperar que as coisas mudem. De sempre dizer que os outros precisam mudar ou fazer algo. Que seja eu, que sejamos nós o instrumento da mudança que tanto desejamos e que se faz tão necessária. Sejamos nós o exemplo.


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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