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Jogo da vida

Confesso que, antes do jogo de domingo, o último que assisti faz quatro anos


Confesso que, antes do jogo de domingo, o último que assisti faz quatro anos. Penso que a paixão nacional não me domina e, talvez por essa razão, eu só assista esse esporte em tempos de copa do mundo e, mesmo assim, apenas quando o Brasil entra em campo.

Apesar disso, durante a partida, fico com o coração na boca, com o grito na garganta e sofro quando nos empurram goela abaixo injustiças. Por esse relato, salta aos olhos que, de futebol, não entendo nada. Todavia, de direito e de honestidade entendo um pouquinho. Afinal, o direito é minha ferramenta de trabalho e a honestidade uma ideologia de vida.

Assim, essa mistura do esporte, cujas regras ignoro, e do direito cujas leis, algumas, conheço, fizeram-me enxergar, no jogo do Brasil x Suíça, um pouco do que vejo no meu cotidiano profissional. Igualmente vi jogadas que nós, cidadãos brasileiros, conhecemos bem na nossa luta cotidiana pela sobrevivência.

Isso porque, em campo, os jogadores, representando o povo de nosso país, corriam de um lado para o outro em busca do gol da vitória, não alcançado. Nós, na vida de brasileiros, corremos também, mas com o firme propósito de garantir o sustento, a saúde, a educação, a qualidade, nem sempre encontrada, de vida. Toda essa corrida, que por vezes nos fadiga e tira de campo, decorre das faltas promovidas pelo Estado, ente público cuja omissão nos repassa o dever de, sozinhos, sobrevivermos no jogo da vida quando o trabalho deveria ser em equipe.

Embora pareçam realidades diversas, na vida, como no jogo de lançamento do Brasil nesta Copa, somos violentados em nossos direitos, somos vítimas do descaso e sofremos muitas faltas não punidas. Isso porque, por vezes, àqueles "juízes" que deveriam nos proteger e/ou promover a justiça pelo poder legal de arbitragem a eles concedido, seja por incapacidade, seja por corrupção ou seja por parcialidade, nem sempre o fazem. Assim, para que existem leis?

A diferença principal havida no jogo e na vida está no pagamento que o povo e que os jogadores da copa recebem no fim do mês. Mas, é copa, é Brasil, é o grito do GOOOLLL querendo sair! Então deixemos a crítica para o pós Copa da Rússia 2018.

Afinal, em tempo de Copa do Mundo, a violência cessa, a corrupção é interrompida, o desemprego tem fim. Então porque chorar, melhor torcer... É o Brasil ! ! ! É "nóis"! ! !

Assim, salvo a decepção que se extrai do juiz que arbitrou o jogo do Brasil sendo omisso às faltas cometidas, especialmente em face do Neymar, não marcando o pênalti após a falta contra Gabriel de Jesus e validando um gol ilegal, que ignoremos os sofrimentos dos 365 dias do ano que nos são impostos por meio dos gols ilegais lançados nas redes de nossas vidas. Igualmente, que não nos importemos com as muitas faltas cometidas pelo Estado e ignoradas por àqueles que têm o dever legal de fiscalizar e de promover Justiça.

O placar de 1 a 1 do primeiro jogo, se as leis do futebol fossem respeitadas, poderia ser alterado para nos dá a vitória de 1 a 0 ou - quem sabe? - por mais pontos. Mas, tudo bem. O jogo apenas nos revelou que brasileiro é sempre brasileiro. Assim, não importa se está no Brasil, na Rússia ou no mundo: brasileiro é um povo cordial, que tem em seu favor o direito de expressão, que sabe lutar, que argumenta para fazer valer seus direitos, mas cujos gritos poucas vezes são ouvidos.

Assim, o povo cai, é jogado ao chão, é superado por gols ilegais e, apesar disso, está sempre correndo atrás da bola na esperança de que, um dia, quem sabe, seus direitos sejam respeitados; as ofensas em sua face sejam punidas; seu valor seja reconhecido e o mérito de suas conquistas seja de fato concedido. Afinal, "a esperança é a última que morre".

Enquanto isso, seja na vida ou no futebol só nos cabe continuar correndo e, sem desanimar, gritar insistentemente: Vai Brasil que sua vez vai chegar...

 


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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