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A vida principia no irromper do ventre, no invadir do fôlego aos pulmões, na pele coberta de sangue e no choro forte que anuncia a vida


Não nascemos para acomodação. A vida principia no irromper do ventre, no invadir do fôlego aos pulmões, na pele coberta de sangue e no choro forte que anuncia a vida. Não nascemos para sucumbir à força do tempo. Nascemos para precipitar o fôlego, agredindo o próprio tórax com os batimentos do coração. Nascemos para promover atritos como dos pés com o chão a fim de deslocar-se de um ponto para o outro. Nascemos para incomodar comportando diversidades e promovendo a equidade. Nascemos do desespero do querer da dor do corpo, da perturbação dos sentidos na febre da paixão. Nascemos para incomodar, como a semente prorrompendo o solo, sedenta por infinito espaço. Nascemos para ser comprimidos na mente e na alma, forjados no fogo e nas pancadas que o coração nos submete. Nascemos várias vezes no decorrer do tempo até romper o corpo a alçar a eternidade, promovendo, incomodando e enunciando um novo princípio, com novas lágrimas. As quais agora encobrem o espírito com dor, de quem ainda não irrompeu o corpo. Nascemos e ascendemos, incomodando o corpo da mãe com o intuir de nossa existência no suspirar da paixão, no invadir do corpo e no evadir-se do mesmo. Por fim, arrancando-lhe um pedaço da alma.  Nascemos para incomodar, para nascer várias vezes em outras vidas. Nascemos para crescer, correr, evoluir, iluminar-se até finalmente tornar-se eterno.

 

Julio M. Bicalho 

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