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Heróis

Desde 1992, o Brasil possui um Livro com páginas de Aço, com uma lista oficial de heróis e heroínas


Com os meus primeiros livros conheci os seres mitológicos: entre Hércules e Aquiles, Thor se destacava. Em outros: Super-Homem, Tarzan, Homem-Aranha, Fantasma... O que me fascinava era o Capitão América - acho que não era tanto pelas suas aventuras e sim pela camisa estampada com a figura do Capitão com sua veste e o grande escudo. Nos heróis da minha infância, e adolescência, os policiais, soldados, militares... Não figuravam. Cresci com medo. Eram outros tempos, da Ditadura Militar. Ouvia muitas histórias, algumas assustadoras. Perda de direitos. Direitos simples, fundamentais para a vida: direito de ir e vir. O direito desaparecia em um simples "Toque de Recolher".  Nesse tempo de infância e adolescência não entendia da política e muito menos a razão da agressividade. Pessoas desapareciam sem deixar vestígios. O medo assombrava. Cresci assim, com medo da polícia e dos militares. Quando na faculdade, na idade adulta, o medo transferiu-se para o meu pai. Temia pela minha segurança. Alertava diariamente pelos riscos em manifestações. Por isso, fico assustado quando assisto e ouço "pedidos" pela volta de um regime de governo em que os direitos dos cidadãos não são respeitados. Quem viveu outro tempo e valoriza a liberdade de expressão deve enfaticamente repudiar tais manifestações. A democracia, por mais incompleta que seja, ou por mais imatura que se encontre, deve ser preservada e aprimorada. Na verdade, única forma de uma sociedade evoluir. Com erros e acertos, mas através da vontade da maioria. Logo depois da faculdade, ouvia Cazuza: "Meus heróis morreram todos de overdose...". No presente, a sociedade adoeceu com a dependência química. Sofremos todos, pais e filhos. Quem sabe, voltar a Cazuza: "Ideologia, eu quero uma para viver...". Oferecer algo diferente para a juventude que se perde em busca das drogas e violência. A violência que me faz pensar nos atos heróicos. Pensar nos bons policiais. Sim: um policial morto em serviço é um herói. Como heróis devem ser tratados.

Desde 1992, o Brasil possui um Livro com páginas de Aço, com uma lista oficial de heróis e heroínas, localizado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Para fazer parte da coletânea é preciso que o Senado e a Câmara dos Deputados aprovem um projeto de lei com o pedido de inclusão. Os critérios são subjetivos e podem variar com a época. Na atualidade temos sessenta e oito nomes. O primeiro da lista: Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes); Zumbi dos Palmares, o segundo e Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, o terceiro. A primeira mulher a ser incluída foi Anna Justina Ferreira Nery, enfermeira que atuou na Guerra do Paraguai. Um Capixaba: Domingos José Martins, um dos lideres da Revolução Pernambucana de 1817. O Mais novo nome é Antonio Conselheiro, líder religioso da revolta de Canudos, retratado em Os Sertões de Euclides da Cunha. A consagração de heróis é parte da construção da identidade, segundo o historiador Ricardo Oriá. Os heróis são os modelos, os criadores de tudo, o que a massa dos homens comuns se esforça para fazer ou obter, de acordo com o inglês Thomas Carlyle. Uma indicação de um herói nacional pode gerar controvérsias. Sendo assim, entre fantasias e realidade, indico meu pai, com heroísmo alimentou e educou sete filhos.

 

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Sergio Damião Médico e cronista

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