Hartung de volta. Pior para Ricardo - Jornal Fato
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Hartung de volta. Pior para Ricardo

Caso reviravolta se confirme, senador Ricardo Ferraço (PSDB) pode se ver obrigado a subir no palanque governista após articular para o PSB


Parece ser questão de tempo, pouco tempo, até o governador Paulo Hartung (MDB) anunciar sua candidatura à reeleição. O cenário, que parecia improvável depois da desistência no dia 9 de julho, pode se concretizar, sobretudo, pela dissolução do grupo de partidos governistas, capitaneada pelo senador Ricardo Ferraço (PSDB), como se a engendrar vingança pelo que lhe ocorrera em 2010.

Naquele ano, Ferraço, vice-governador na segunda gestão de Hartung, era cotado para a disputa do governo do Estado, mas foi alijado do processo em abril, por circunstâncias de articulações nacionais que levaram Renato Casagrande (PSB) à cabeça de chapa. Ricardo ganhou o mandato de senador, mas guardou a mágoa.

Dizem que a vingança é prato que se come frio. O governador anunciou, há 15 dias, que não tentaria a reeleição. Surgiu nova oportunidade para que Ricardo concorresse ao Governo. Nos bastidores, tudo combinado entre o senador e o governador. Hartung sairia de cena e Ferraço assumiria, enfim, a candidatura ao governo, com apoio do bloco governista.

Na prática, nada deu certo.

Ricardo parecia titubear, mas, na verdade, sabia muito bem o que estava fazendo. Atrasou o quanto pôde o anúncio de que não seria o candidato governista. No meio do caminho, gongou a chance de Amaro Neto (PRB) assumir o papel.

Depois, travou luta interna contra o presidente estadual do PSDB, o vice-governador César Colnago, para tirar o partido do bloco governista e inseri-lo na campanha do ex-governador Casagrande. Era a hora de servir o prato que esfriara por oito anos.

O movimento desfez qualquer liga entre os partidos hartunguistas. Instalou-se o 'cada um por si', no lugar de 'um por todos e todos por um'. A eleição parecia se encaminhar para a definição no primeiro turno. Por conveniências e pragmatismo, partidos e candidatos que deram sustentação ao governo, buscaram abrigo em outras candidaturas, mesmo as antagônicas a tudo o que apoiavam até então. Poucos se propuseram a defender o legado. Na verdade, só o PTB.

É lógico que movimentos tão bruscos provocam reações no mesmo nível. Se, a esta altura, apenas Hartung poderia recompor grupo, ou parte, foi a ele que recorreram prefeitos, empresários e políticos, órfãos de sua maior liderança, para que reconsiderasse a sua decisão. O governador diz refletir, porém, a pressão é grande. Estava pronto a se aposentar das urnas, mas deve encará-la mais uma vez.

Os oitos anos entre o abril sangrento e os dia atuais não foram tempo suficiente para que Ricardo pudesse, enfim, dar o troco. O movimento, se vê agora, foi apressado. Pior do que isso, o deixou em situação difícil. Empenhou esforços e a palavra, mas é muito provável que, novo no ninho, não consiga selar a parceria entre tucanos e socialistas como pretendia e ainda na tarde desta terça-feira reafirmava.

Menos mal, para ele, que os arranjos novamente o privilegiem.  Por enquanto. Amaro Neto, a maior ameaça à sua reeleição, deve se tornar vice na chapa encabeçada por Hartung, escancarando o caminho para a recondução do senador cachoeirense que, caso não vença nova batalha pelo PSDB, pode ser obrigado a se colocar no palanque governista.

A situação, embora constrangedora, ainda é confortável. Entretanto, pode mudar de figura se o deputado federal Sérgio Vidigal, presidente estadual do PDT, voltar do Rio de Janeiro - para onde foi logo após reunião em que o partido celebrava aliança com Casagrande, na tarde de ontem - com autorização da executiva nacional para se realinhar no grupo de Hartung.

Há, dentre as diversas projeções para o realinhamento de forças, a possibilidade de que Vidigal ocupe a outra vaga da chapa para a disputa ao Senado, restabelecendo a competitividade grande entre três nomes para duas vagas: Vidigal, Ricardo e Magno Malta (PR).

Ao menos era esse o panorama no início da noite desta terça-feira (24). Mas, ante cenário político tão volátil, pode ser que tudo mude ao amanhecer de quarta ou a qualquer momento. É aguardar, pois certeza sobre candidatura e coligações, só no registro, em 15 de agosto.


Wagner Santos Diretor e editor Jornalista

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