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Gentileza gera gentileza

Esta semana fui fazer o cadastramento biométrico no Cartório Eleitoral preparada para esperar por horas a fio


Foto: Leandro Vieira

Esta semana fui fazer o cadastramento biométrico no Cartório Eleitoral preparada para esperar por horas a fio. Conformada, porque já tinha lido matérias sobre as filas intermináveis, inclusive aos sábados.

Cheguei por volta das 15h30, após o expediente no trabalho, e a fila descia rente à parede oposta ao asfalto, na direção de um posto de gasolina. De repente, as pessoas se desorganizam e fazem curva rumo à pista.

Um senhor idoso, que certamente não é funcionário do Cartório, vem sorridente e animado e orienta a todos que voltem à fila linear, para que ninguém corra riscos estando tão próximo da pista com a desorganização que se formou. "Para ninguém ser atropelado", explicou.

Uma senhora atrás de mim resmungou o quanto pode e falou, pelas costas, que ele pensava que era dono da rua, que ali era local público e que não era para atendermos a ordem daquele velho metido. Quem ele pensava que era, afinal? E blá, blá, blá. Cansei de ouvir aquela mulher chata e inconveniente, que achava que o meu e os outros ouvidos era público e depósito de palavras tóxicas e desnecessárias, e me abstraí.

Não sem antes ouvir outra mulher dizer que senhor só queria ser gentil. De tantas pessoas na fila, apenas aquela viu arrogância onde provavelmente só havia preocupação movida a simplicidade e desprendimento. De minha parte, não me incomodou nem um pouco.

O que realmente me tira da zona de conforto é a falta de empatia, o que aquele homem tinha de sobra. Não sei o que ele faz ali o dia todo. Provavelmente vende alguma coisa. Não tive tempo de perceber porque ele foi mais rápido do que eu. Ao perceber que eu mancava e estava com a perna nitidamente inchada, disse que aquela não era a minha fila.

Fiquei sem graça porque ele me pegou pela mão e falou que me levaria à fila preferencial. Quadrada, segui o homem, que saiu falando às outras pessoas da fila que os que tivessem mais de 60 anos também poderiam ir à fila preferencial. Fui rapidamente encaminhada para triagem e recadastramento. Em pouco tempo saí com o novo título nas mãos. E nem agradeci como deveria. 

Tudo por causa de um "velho metido" com um olhar atento. E penso no quanto esse olhar faz diferença. E no quanto as palavras tóxicas e visão distorcida podem prejudicar a coletividade. Felizmente naquela fila não houve o efeito manada. As palavras desagradáveis não encontraram eco. Os olhares sobre o bom velhinho foram de gratidão, mesmo que ninguém estivesse perguntando nada. Que nossos dias sejam movidos a gentileza e generosidade, mesmo diante dos que insistem em ver apenas o lado mau da vida. Afinal, gentileza gera gentileza.


Anete Lacerda Jornalista

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