Era assim... - Jornal Fato
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Era assim...

Com oito anos vim para Cachoeiro e fui matriculada no Bernardino Monteiro


Meu neto de 7 anos me enviou algumas perguntas para uma pesquisa: - Como era a escola em que estudei com a idade dele? Ambiente, rotina, lanche, materiais escolares, entre outros. Respondi que comecei a estudar na roça, a escola era muito simples, distante da nossa casa, com uma sala em que se aglomeravam alunos da primeira a quarta séries, e uma só professora, muito severa, talvez pelas circunstâncias de ter de dar conta de muitos alunos de séries diversas, e a disciplina era exercida com uma régua de madeira. Não tinha banheiro anexo, era uma casinha desprovida de esgoto, que ficava distante, talvez por conta do odor que exalava, e eu vivia apertada porque morria de vergonha de pedir para ir ao banheiro.  Com oito anos vim para Cachoeiro e fui matriculada no Bernardino Monteiro, não me lembro de pai ou mãe me levando para a escola, ia sozinha do Aquidabã à Praça Jerônimo Monteiro, e lendo os letreiros das lojas pelo caminho para não me perder. Só tinha medo da ponte de ferro, cujas tábuas estavam sempre soltas e às vezes eu a atravessava fazendo malabarismo.

Não havia mochila nem merendeira, nossas mães costuravam sacolas de pano com uma alça - embornal, em que colocávamos cadernos, merenda, lápis, tudo junto e misturado. O material escolar era composto por uma cartilha - o rato roeu a roupa do rei de Roma e assim em diante, aprendíamos letra por letra; um caderno pequeno de português, um de quadradinhos para matemática, uma tabuada, um caderno de desenho, um de caligrafia, lápis e borracha. Quando eu ganhava uma caixa de lápis de cor, até a de seis lápis, ficava na maior alegria. Acho que por isso até hoje adoro lápis de cor! A merenda era uma banana, ou uma laranja descascada, ou um pedaço de broa, ou um pão com manteiga ou raramente com goiabada. Quando juntávamos algumas moedas comprávamos balas de chupeta no recreio, drops só surgiram mais tarde. Já na quinta série levava o material nas mãos, por vergonha do embornal. O uniforme era uma sainha vermelha de pregas, uma blusa branca e nos pés sapatos denominados tanque, talvez pela rigidez e peso, e por conta dos calos e bolhas, eu sempre voltava descalça com eles nas mãos.  Quando ganhei um par de Vulcabrás fiquei na maior alegria, até dormi calçada. Minha felicidade eram os livros de história coloridos que tínhamos acesso na escola. Não há termo de comparação e nem sei se meu neto entendeu o sacrifício que se fazia para estudar.

 

Marilene De Batista Depes

 


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