Emprego em Cachoeiro - Jornal Fato
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Emprego em Cachoeiro

Poucos sabem o que é o CAGED. É um cadastro federal sério que tem o objetivo de acompanhar a evolução do emprego formal no Brasil


Poucos sabem o que é o CAGED. É um cadastro federal sério que tem "objetivo de acompanhar a evolução do emprego formal no Brasil", segundo definição do Ministério do Trabalho e Emprego e que prepara e dá a público um conjunto de tabelas com informações segundo os setores econômicos do IBGE, classificadas por Estados e municípios com mais de 30.000 habitantes.

São dados colhidos de informações prestadas mensal e obrigatoriamente pelas empresas, sem ingerência de governo; dados que informam quantos empregados contrataram e quantos demitiram, mês a mês. É dos mais importantes e sérios esteios - se não o mais - para quem quer saber como está sua cidade, seu Estado e o País, vez que as estatísticas abrangem, individualmente, todos eles.

Um pouco por dever de ofício, outro tanto pela sempre presente esperança de que as coisas melhorem para nosso município e também para os vizinhos, acostumei-me, pelos meados do dia vinte de cada mês, a colher na internet dados do CAGED referentes à nossa cidade. As primeiras publicações do CAGED se deram a partir de 2003; eu as acompanho há uns cinco anos.

Examinar o CAGED, além de acompanhar dados corretos, fornecidos pelas empresas e não forjados por terceiros tem resultado fundamental: se País, Estado e cidade - Cachoeiro de Itapemirim - apresentam bom aumento do número de empregados, os governos podem até ficar calados, mas quem acompanha o CAGED sabe que tais locais estão progredindo. Não conheço modo melhor de apreciar o progresso do que verificar o aumento do número de empregados. A contragosto chego, até, a admitir que educação, cultura e saúde seriam secundários, vez que é o bem estar do salário ganho que passa a fazer seu recebedor querer... educação, saúde, cultura e o mais que lhe satisfaça.

Ao contrário, governos, e incluo praticamente todos, principalmente os de nossas cidades, nos últimos anos, mesmo com dados estatísticos adversos, nada mais fazem do que se autoproclamarem campeões em tudo e que a cidade está em franco desenvolvimento. Não está. É demagogia. Nem sabem o que fazem, mas fazem muito "bem" trazer empresas de fora que, de cara, já levam uns trinta ou trinta e cinco por cento do lucro normal do empresário - o dinheiro vai e não volta. Capital não tem carteira assinada e não precisa morar onde tira seu lucro.

Cachoeiro tem perdido milhares de empregos nos últimos anos. A estatística do CAGED, como a do mês de janeiro/2019 (a última), indica isso. Perdemos 669 empregos nos últimos doze meses; ganhamos só 30, em janeiro. E esses 30 empregos podem ser bem menos do que o número de empregados admitidos pela Fábrica de Cimento Itabira, cuja recuperação nada tem com a política municipal.

Veja abaixo a evolução do emprego em Cachoeiro e tire conclusões sobre o que nos espera, se continuarmos despreocupados de verdade com o destino de Cachoeiro.

 

 

História de Rubem Alves

Havia numa cidadezinha dos Estados Unidos uma igreja batista conhecida pelo seu rigor ético. Seus membros seguiam rigorosamente os mandamentos e os costumes que a tradição sacralizara. Não participavam de bingos, não fumavam e não bebiam - atos que julgavam artimanhas do diabo para levar as almas à perdição. Havia naquela mesma cidade uma cervejaria. Não é preciso dizer que a dita cervejaria estava sempre presente nos inflamados sermões do pastor, que a acusa de igreja de Satanás. Aconteceu, entretanto, que por razões não esclarecidas, a cervejaria lhe fez uma doação de 500.000 dólares. Criou-se imediatamente um problema. Se a doação tivesse sido de 500 dólares teria sido fácil rejeitá-la. Quinhentos dólares não é tanto dinheiro assim. Mas 500.000... O pastor convocou imediatamente uma assembleia dos membros da igreja, porque as igrejas batistas são democráticas. A assembleia se dividiu em dois grupos: aqueles que diziam que o dinheiro tinha de ser rejeitado por ser dinheiro de Satanás e os outros que falavam sobre as coisas boas que poderiam ser feitas com aquele dinheiro - uma creche, ou uma escola, ou um abrigo para velhinhos, ou um novo órgão. Depois de prolongados debates que entraram madrugada adentro, a assembleia, por voto unânime, aprovou a seguinte resolução: "A assembleia da Primeira Igreja Batista resolve aceitar a doação de 500.000 dólares feita pela cervejaria Dubwiser na firme convicção de que o Diabo ficará furioso quando souber que o seu dinheiro vai ser usado para a glória de Deus".

(Texto de Rubem Alves, que já nos deixou, que eu colhi da pág. 152 do seu livro "O Sapo que queria sem príncipe", Ed. Planeta).


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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