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Direção Defensiva

Descubro todos os dias a importância da direção defensiva


Descubro todos os dias a importância da direção defensiva. No trânsito os motoristas mudam de faixa sem dar seta, param do nada sem ligar o pisca alerta, os motociclistas ultrapassam pela direita, em manobras arriscadíssimas de arrepiar. Tudo na maior tranquilidade, porque ao que parece, o outro não importa. Geralmente são homens que não admitem esperar e põem em risco a vida de todos. Empatia para quê, né?

Se acham donos das vias, como se estas não fossem de uso coletivo. Como sobreviver, além de adotar uma direção cada vez mais defensiva? Saio de casa com a certeza de que terei que dirigir atenta às imprudências que não são minhas. Faz parte. Irritante demais é perceber que você fica na fila que é sua, geralmente congestionada, mas os espertos ocupam a que é para outra direção, e do nada tentam, a qualquer custo, migrar para a que você pacientemente está porque fez a coisa certa.

Do trânsito à vida, faço analogias. Penso no quanto precisamos ser defensivos também em relação à vida pessoal, já que existem aqueles que, sem nenhum pudor, atravessam o nosso caminho e nos obstruem sem ligar o pisca-alerta, como se fosse natural saber ou interferir no que é interesse unicamente pessoal.

Mais que isso, invadem o nosso sagrado, intransferível e inviolável direito à privacidade. Ainda me surpreendo como muitas pessoas te cortam pela direita, com a maior naturalidade, quebrando todas as regras, como se isso fosse certo. Acho que desconhecem o sentido das palavras vida íntima.

Talvez a força das redes sociais contribua para essa "invasão quase pacífica".

Às vezes nos expomos demais, o que pode sugerir que nossa vida está aberta para balanço e que estamos disponíveis e receptivos às mais esdrúxulas opiniões. Pode ser que esteja na hora de repensarmos posturas e atitudes. Quem sabe é a hora de economizar palavras, em tempos em que elas são violentamente vomitadas e ferem mais do que navalha. Provocam dor, ao invés de acalento.

Gosto das palavras, gestos e atitudes que seduzem, envolvem e reenergizam. Para essas, estou sempre de espírito desarmado e peito aberto, e sei que não preciso assumir postura defensiva. O risco é quando o que parece perfeito encobre segundas e terceiras intenções. Nesse caso, soa o sinal de alerta e me abstraio.

Conto borboletas, aprecio passarinhos, sinto a brisa nem tão comum por essas terras e olho as estrelas. Porque se tem uma coisa que aprendi é que em alguns momentos, a abstração é o único caminho, pelo bem da sanidade física e mental. É preciso.


Anete Lacerda Jornalista

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