Crise Migratória: problema de todos - Jornal Fato
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Crise Migratória: problema de todos

De fato sofremos, através de um legislativo, executivo e de um judiciário, que não nos representam


Refugiados em nossos lares, vivendo em um país laico que, apesar de ruim e violento, ainda é considerado pacífico, ficamos inertes ao sofrimento de milhares de pessoas que perderam a dignidade e já não possuem onde debruçarem a cabeça. Isso porque, via de regra, a violência, no Brasil, apesar de intensa, ocorre de modo isolado, não há conflitos em massa e a opressão é camuflada.

De fato sofremos, através de um legislativo, executivo e de um judiciário, que não nos representam, a redução, cotidiana, de direitos e de garantias constitucionais, muitas das quais, na prática, já não são entregues, especialmente à população mais carente, que fica marginalizada.

É bem verdade que, a cada instante, cidadãos são violados nos direitos à vida, à saúde, à propriedade, à segurança; à...; à dignidade. Apesar disso, por aqui, ainda temos a falsa sensação de segurança. Falsa porque ainda temos respeitados, em regra, o direito de ir e vir.

Apesar da evasão de brasileiros para outros países, o sentimento de não fazer parte de uma pátria ainda não nos alcançou. Todavia, muitos seres humanos, tão (ou mais) gente como nós, já não suportam viver no país onde nasceram. Muitos se entregaram ao extremo desespero de pôr em risco a vida própria e a dos familiares; muitos já morreram tentando. Tudo em busca de um país que, ao menos, lhes devolva a dignidade humana e a esperança. Isso revela-se na, atualmente, tão divulgada crise migratória que a muitos tem matado, humilhado e escravizado.

A crise migratória reflete o desespero de milhares de pessoas que, por vezes, em irracional esperança, fogem de seus países com fim de escaparem de cenários extremos que variam entre guerras, fome e repressão.

A essa entrada de indivíduos ou grupos de indivíduos estrangeiros em países diversos da sua nacionalidade chama-se imigração. A intensificação de situações degradantes em algumas nações, ampliou tanto as imigrações, a maioria delas ilegais, que ocasionou o surgimento de mais uma crise mundial: a migratória.

Assim, o problema passou a ser (ou deveria) de todos. Isso porque, por óbvio, a questão envolve seres humanos de diversas faixas etárias, inclusive crianças totalmente vulneráveis. Se há pessoas sendo violadas, seu acolhimento deveria ser o cerne do olhar mundial. Afinal, que sentido há na existência das leis, dos Estados e do poder se o zelo pela pessoa não sobressair aos demais? Ora, de que valerá a riqueza dos grandes se não as puderem partilhar (ou exibir) junto a outros indivíduos? De que vale o poder se não houver sobre quem os manifestar? De que vale a prepotência se, no fim das contas, todos vão para a mesma vala?

Qual sentido há no levantamento de grandes nações, se não existirem as pequenas para as contemplar, abastecer ou servir?

Por óbvio, nos dias atuais, impossível que um indivíduo ou uma nação viva no isolamento. Assim, por certo a crise migratória é - deveria ser - um problema de todos. Contudo, o que vemos são países riquíssimos, prendendo, maltratando e humilhando imigrantes, inclusive crianças, que, pela legislação internacional, deveria ter proteção integral.  

Vemos imigrantes sendo tratados como seres inferiores. A crise revela uma visão "hitleana" (de Hitler) sobre os imigrantes, o que beira a loucura do absurdo e do egoísmo, mas também revela que, em sentido inverso aos valores "morais", há muita gente de verdade sofrendo em busca de respeito, mas também há muito projeto de gente, achando-se melhor, cheio de prepotência, mas, no fim das contas, são mais bicho que os que sofrem em busca de um lar, pois os projetos sequer aprenderam a partilhar.

 

Katiuscia Oliveira de Souza Marins

https://www.suabiblia.com/apocalipse/

 


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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