Trata-se de um dos filmes mais impactantes que já assisti, a realidade crua que ele apresenta não é desconhecida, mas assisti-la de forma tão explícita choca e causa estupor.

Coringa não é filme para crianças, nem para adultos se estes preferem ignorar a realidade que transforma humanos em monstros. Coringa expõe o grande preconceito da sociedade com aqueles que não se inserem nos padrões considerados normais; desvela a dor do abandono na alma de uma criança e nos apresenta um ser com dificuldades cognitivas, simplório, que se veste de palhaço para alegrar os outros e aplacar a dor que lhe domina o espírito. E tudo lhe é tirado, o trabalho; os medicamentos que o mantinha sob controle e foram suspensos pelo governo; a confiança que poderia ter naqueles que interagiam com ele e que o tratavam com sarcasmo e zombaria. E muitas vezes com muita violência, a mesma violência que faz matar mendigos, índios, mulheres, gays, deficientes... Afinal, para a sociedade, minorias fragilizadas deveriam ser exterminadas ou ignoradas como escória humana.

Coringa retrata a sociedade insana que abandona e despreza quem necessita carinho e afeto para sobreviver e expõe a cruenta face dos poderosos e de quem domina os espaços de comunicação, e o utilizam a fim de apresentar programas em que humanos são tratados de forma sarcástica e ofertados nas arenas da vida, para satisfazer plateias sádicas e insaciáveis.  E faz-nos entender que os mais violentos são exatamente os ditos normais.

Coringa faz chorar, sofrer e despertar em cada um o resquício de humanismo que ainda resta, nos faz torcer pelo bandido e a vibrar junto quando ele decide dar um basta no sofrimento e revida com violência à violência que lhe impõem. Coringa nos faz dançar juntos a sua dança, nos faz entender o imaginário dos que possuem transtornos mentais, nos faz atingir o cerne da sua dor. Coringa está arrebatando plateias porque desvela o mundo em que vivemos e nos submete a uma realidade tão impactante que saímos do cinema introspectivos e conscientes de que, o ser humano é realmente o fruto do meio. O filme vale a pena ser visto pelo realismo, pela atuação de Joaquin Phoenix como Coringa que é perfeita e pela admirável direção de Todd Phillips. Indico.

Marilene De Batista Depes